domingo, 28 de março de 2010


*

Dizes que vês a vida na água
Que corre fresca e limpa na agueira.
Na agueira só vejo folhas de salgueiro
Que passam e estão mortas,
Insectos que lá caíram e ainda lutam,
Outros que lá vivem com outros animais
E um fundo de terra através da fina transparência da água.

Bebe um golo fresco de água
Sente a ponta do nariz dentro da frescura,
Todo o teu peso nos joelhos enquanto te ajoelhas
E te inclinas para beber.
Não vejas a vida,
Sente a vida!

Se vês a vida na água,
Bebe-a,
Mas bebe-a com goles lentos.
Sente no esófago a passagem refrescante a cada trago,
A água a descer,
A aquecer na descida até se tornar parte de ti.
Tu és a vida!

28.03.2010

Savonlinna

João Bosco da Silva

Poema para “Disse-me António Montes”