sexta-feira, 8 de outubro de 2010



Ovos, cães e poetas


Os cães ladram e parecem-me gente a ralhar,

Aquela miúda ou a mãe abandonada,

Com aquela casada com o homem no Luxemburgo

Ou lá onde está

E a estas horas nunca houve nesta terra uma pastelaria

E o Cesariny já dorme.

Os santos olham ávidos os dedos que abrem segredos

E orações e convulsões

Na escuridão de uns lençóis húmidos,

Frustrações de santas que esta noite

Sem maridos nem bancos traseiros de carros abandonados,

Choram, choram desesperadas vulvas sedentas.

Deste lado só tinta escorre como o sangue

De uma desculpa sem sangue,

Porque os anos tornam a vontade azeda.

Todos os amigos são Gregory Corso

E eu um traído por desconhecidos,

Quando os cães ralham e me parecem gente a ladrar.




08.10.2010


Torre de Dona Chama


João Bosco da Silva