segunda-feira, 22 de novembro de 2010



“The Kids Aren´t Alright”


Treze ou catorze, menos (quem sabe?), a nova geração,

Sabem já tudo, nasceram ensinados, não querem saber, a vida é deles.

Ao sol, com terra nas unhas, a espiar de longe as netas da vizinha,

Na esperança de um olhar ou de um olá, um primeiro beijo no verão,

Atrás de uma carrinha encostada a um muro,

Com os amigos à espera para perguntarem como foi,

Acho que comeu cebola, de resto o coração inchou e parecia explodir.

Treze ou catorze anos e um táxi para a perdição,

Alguém que abriu, que lhe mostrou e gostou,

Os pais não têm nada a ver, eles fizeram o mesmo ou pior,

Já tenho pêlos, já rapo os pêlos, sinto uma vontade quando passam suados de jogar à bola,

Quero-os dentro de mim, treze ou doze (quem sabe?)

E até me dá haxixe, nos bancos de trás do carro dele,

Depois de termos ofegado bastante, depois de o ter engolido

E de ele me ter chamado puta: gosto que me chame putinha.

As unhas cheias de terra, de sol, suado de correr pelos montes,

Comer batatas fritas em cima de uma rocha, beber uma Coca-Cola de lata

E regressar antes da hora do jantar com o irmão de outros pais. Perdem-se todos.

As minhas tetinhas, bem gostosas, a circular nos bolsos de quem quiser ver,

Sou como a filha dos donos dos hotéis, apesar de não valer uma merda,

De ser um projecto de gente de catorze ou onze anos, de ter mais dentro

Da minha excitação húmida que dentro do crânio, sopram-me no ouvido

E dá impressão de uma garrafa vazia, mas deve ser uma fase,

É da idade. Embebedo-me e deve ser por isso,

Mas depois vomito e fico bem, conduzo o carro do meu novo namorado,

Enquanto ele me está entre as pernas e morremos os dois,

Já sabíamos tudo, éramos deuses, agora para sempre, nunca mais.

Devo ser um grande bandido, escondo a revista de mulheres nuas,

As páginas já se colam e na próxima semana já tenho que a entregar

Ao próximo, vou para o inferno, é certo, mas rezo uns Pais-Nossos e finjo-me arrependido,

Debaixo das cartas das amigas do Sul (devem vir no Natal),

Gosto de uma delas, mas ela só quer andar com os grandes: já fumam.

Engravidei, os meus pais que paguem o aborto se quiserem,

Ou então a minha mãe terá que criar outro garoto,

Que eu ainda sou muito nova para aturar berros, sou eu que berro e gemo e grito,

Com o que vier e me der uma importância que não tenho: olhem para mim!

Às onze e meia em casa e cem escudos para uma Coca-Cola,

Obrigado, até logo, vou ter com o… e o… vamos até…

Subo para a mota e sei que vamos até ao monte dar umas, eu aguento,

Gosto que abusem, já não sou nenhuma garota, tenho treze ou por aí,

Já me agarram as mamas com a mão cheia, tenho umas ancas que eles adoram olhar,

Passar a mão, apertar contra a coisa deles, sou uma deusa, todos me conhecem:

O teu mundo pequeno. Afinal, quem me fez santo? O paramento não.

“The Kids Aren´t Alright” na cassete dos The Offspring e eu sem perceber bem

O que a letra diz, até alguém me arranjar o texto escrito à mão com caneta verde,

Afinal a coisa está mal, mas nós somos diferentes, viveremos para sempre,

Somos novos, só temos treze ou catorze anos, faz parte,

O futuro virá e trará sonhos além dos que vivemos acordados,

Sonhos grandes que as nossas mãos omnipotentes enrolam, metem, carregam, clicam,

Puxam, viram, matam… somos o resultado do que comemos todos os dias.



22.11.2010


Torre de Dona Chama


João Bosco da Silva