sábado, 11 de dezembro de 2010



Praia


Enterro a garrafa de vinho tinto na areia

À beira do lago e enquanto refresca,

Sento-me a aquecer e a olhar os barcos

Que passam.

Lanço-me à água, mergulho, sinto

Na pele o corpo líquido envolver-me,

Nado até me doerem os braços,

As pernas, as costas, até que o Sol

Se canse, até o meu corpo arrefecer.

Escurece, mas pouco, regresso à margem

E nem me lembro da garrafa de vinho.



Ville Sillanpää



Confissão a Sylvia Plath


A minha cadela uma leoa pequenina e eu ladro-lhe um pensamento.

O frigorífico dá-me um pacote de leite quase vazio

E eu já fumei dois maços de cigarros e sinto-me pesado

Com tanta cerveja e alcatrão.

Anti-depressivos, poesia e solidão mal conseguida,

É isto Sylvia?

Pego no António Lobo Antunes e ele diz-me que Camões

E sinceramente, hoje não estou para ler Faulkner,

Já me vim apesar de tudo e tenho o amor da minha vida bem longe

E frio do corpo onde me despejei.

A arquitecta italiana é tantas, que ainda não a reencontrei,

Mesmo sabendo que está em Barcelona

E tu Sylvia já morreste com a tua depressão.

A minha mata-me e escreve e eu inocente de tudo,

Sabes bem e se não sabes,

Os Sôbolos Rios Que Vão e a bola de ténis da estrangeira loira,

Que provavelmente inglesa.

Sei que bebeste vinho do Porto Sylvia

E tenho pena por nunca ter estado dentro de ti,

Apesar de muita gente (tu morta), dizer que não gosta.

Sabes, também há gente que não gosta de António Lobo Antunes,

E eu, só tenho pena dos que vão morrer assim.

O meu hálito é tabaco e nem sei se o meu ou de quem me morreu em nome.

Aquele gajo português de olhos castanhos, tentarão recordar,

Mas eu não Sylvia, eu nunca português.

O meu hálito a leite e a minha cadela uma leoa pequenina

E tu no caixote do lixo, apesar de morta, porque alguém não gostou,

Como se isso nos interessasse.

Se escrevemos é porque já nós não gostamos, ou de outra forma,

Ainda poderias estar aqui, ao meu lado, cheia de rugas

E com uma tristeza aguentada a caneta e papel.

O anjo da guarda que a minha mãe me deu, não será suficiente,

Porque me lêem e me dizem que se não me conhecessem,

Eu mais um no cemitério. Ainda não perceberam

Que eu ando para chegar a ti, desde que pensei, eu sou,

E isso faz pouco sentido.

Temos pena Sylvia, mais nós que os outros,

Mas eu vou tentar aguentar, mesmo sabendo que amanhã

Acordarei e serei menos eu mais um dia.

Sylvia, dorme bem e não te preocupes,

Um dia vou-te visitar.



10.12.2010


Torre de Dona Chama


João Bosco da Silva