sábado, 28 de maio de 2011


Reminiscências de Sexta-feira


Noite com mãos como bocas, lá no fundo, sem aprovação, tornando-me perdido

E no fim é sempre a mesma desculpa dos corpos tatuados, a curiosidade do interior impossível,

As marcas que são breves e vão-se com um duche demorado na esperança de pecados

Também, pelo ralo até ao inferno que nos espera, sem existir depois do corpo eléctrico,

Depois da desistência da unidade das sinapses, como se um universo que se apaga subitamente,

E afinal a vida uma luz pequenina, uma noite perdida aos bocados, com um gosto na boca

Que é de alguém, quase uma memória, mamilos que se mostram com vontade de uma liberdade

De outro, um abraço sem unhas, uma humilhação de língua atrás da orelha enquanto se empurra

Mais um golo de suicídio, sabendo que o meu avô por lá, o meu tio por outra razão e então…

Então, que se lixe, há tanto mundo no mundo, tanta forma de sair, uma única de entrar

E há tantos anos que me parece que desde sempre e ninguém me convencerá do resto

Enquanto não apagarem as luzes e não me tirarem as mãos de dentro das calças

Com uma multidão de vazios com pés inquietos e luzes que cegam os olhos fechados.

São três, quatro e quase as cinco, tão cansado, tanto cansaço que só me apetece

Atirar pedras à janela do quarto dela, aquela janela que nunca soube qual era, por isso

Mãos cheias de pedras e alguma será, se for, entre pernas nas minhas, disse que ia desistir

Mas não me deixam, agarram-me, deixo-me levar, no fundo falta-me interesse

E o meu desprezo por quase tudo torna-me tão interessante, uma luz solitária

Numa casa abandonada, das últimas no fim de uma aldeia, onde os mosquitos e as traças

Se reúnem para o banquete das repelentes osgas com olhos inocentes de medo,

O meu desprezo é o meu amor pelo mundo e queria tanto poder odiar algo, alguém,

Como se a culpa pudesse ser de mais alguém, além dos dedos do cansaço que se arrastam

E tentam dar significado e alguma dignidade a uma ressaca crónica: a eternidade foi longa

Mas espera-se uma do mesmo comprimento, ao menos não estarei só quando a noite acabar,

Não estarei só como quando alguém me incomoda com a expiração no meu ombro,

Não me incomoda quando o que me faz tentar está vazio, verti-me na noite e a secura

Tornou-se no meu único sentimento por quem não me quis, agradeço mais as mãos que me empurram

Para longe, do que às que me envolvem na loucura de mais uma vez para nunca mais, até ver,

Até ver se um rosto se solidifica na minha memória diluída pela sede de vida por muito menos.



28.05.2005



Turku



João Bosco da Silva

quinta-feira, 26 de maio de 2011


Ejaculação Na Consciência



“So, that´s what they wanted: lies. Beautiful lies. That´s what they needed. People were fools”


Charles Bukowski


Se me venho na tua boca e me engoles com promessas de amor,

Que significa quando tudo cinza, novos braços e bocas que me enojam,

Sentindo-se partido na partida, aquilo que se sente entre o estômago e o aneurisma.

Não se fecham portas, são paredes que aumentam, ou nós que crescemos

E tudo deixa de ter um tamanho proporcional, enquanto os sonhos se reservam

Aos olhos fechados e noites quentes e os desejos resumem-se a deixar de se ser

Por uns instantes numa paz pequena no meio de uma guerra infernal pela sobrevivência

Do inútil. Todos os vermes nas memórias dos bancos traseiros, derretidos, cansados,

Esquecidos com o ar que deixa o vapor, o suor, a dor transferida numa ejaculação perdida

Entre dentes mentirosos, ou somente dos que estão para cair a cada segundo que passa.

Não acreditas se te disser que trocava os teus mil lábios, por sessenta e quatro páginas

De uma revista de banda desenhada de mil novecentos e noventa e quatro

Enquanto o sofá me chama para a segurança do meu interior pequeno,

Tão cansado dos olhos antes de, dos olhos que e no fim só a falta de coragem

É que mantém o mundo mundo e a gente em mortais filhos híbridos de deuses

Da infância da humanidade, quando se vivia até antes da inocência se perder.

Algo quererão dizer as formigas de asa em pleno ar no fim de Maio,

Mas eu conheço de cor os impossíveis, os meus, os dos outros tenho assassinado alguns,

Basta ter, ter e saber e usar, sempre fácil quando do lado de cá e sinceramente,

Nunca conheci outro lado, depois de tanta cabeçada em colos de útero,

Não conheci outro lado e ironicamente, sou eu o extraterrestre neste mundo

Que me engoles com promessas verdadeiras até me digerires o futuro.

Não feches a porta quando saíres, não vale a pena, o nada está por aí em todo lado

E dentro do carro negro sinto-me tão só quando os gemidos cessam,

Sinto-me esmagado pela paz, pelos ecos dos vermes que me chupam a última gota

Para se perderam numa eternidade que não será de ninguém, se ao menos olhos,

Nos meus, aí em baixo, onde me é tão difícil deixar de ser, mas nunca saberei

Quem te fui quando te fui, nem tu saberás quem és, do lado de cá, enquanto bebes o meu sumo quente.



26.05.2011


Turku


João Bosco da Silva

domingo, 22 de maio de 2011


Vomitar Com Sinceridade


Não há ninguém capaz de falar nos olhos neste mundo de aparências,

Tão difícil dizer, não, não é, é horrível, mas deixa crescer, ainda não,

Ou pelo menos silêncio, já há muito barulho no convés da hipocrisia,

Já há suficiente vazio enquanto as turbinas começam a varrer as ilusões

Deixando a descoberto tudo aquilo que somos e somos tudo menos o pouco

Nada que se leva em duas malas cirurgicamente pesadas, comprimidas

Como a saudade que se vai expandindo com o esticar dos segundos pelo ar pesado.

As noites deixam-se cair, escuridão em avalanche, mesmo que o dia persista,

Encontros de uma noite, para o nada, como a vida, uma luz na escuridão,

Tão repetidamente questionada a razão, quando é apenas uma: vivê-la,

Não esperar, porque se tem a eternidade e a eternidade não é de ninguém,

A não ser que mártir ou o anti-cristo e eu prefiro o anonimato dos meu inferno pessoal.

Mesmo que venha um colapso no meio de uma multidão, olhos cegos,

Longe da sífilis de Nietzsche, sem o chumbo a espalhar sumo de laranja, escritor e chumbo

Numa parede em Idaho e o peru já está pronto Sylvia, tira daí as ideias,

Serei mais uma luz invisível que se apaga e com sorte ficarão umas palavras

Que não serão o que quiseram ser, emoções que pingam dos dedos

Para olhos secos, que só vêem o que dentro, não se podem condenar,

Somos animais para dentro, por isso sabe tão bem entrar dentro dos outros

E não há nada melhor, poesia mais directa que ver a transformação

De um sorriso num gemido, uma boca silenciosa numa gata assanhada,

Uma santa hipócrita numa puta sincera, abre-se o abismo e tem-se por minutos

A noção do infinito, que se perde, enquanto o suor ainda escorre e futuros nadam

Em direcção às possibilidades infinitas que se perdem na descarga do autoclismo.




22.05.2011



Turku



João Bosco da Silva

quinta-feira, 19 de maio de 2011


Nights of End



There are nights that are eternal and there are nights that are unreal,

That stick to the skin, that insist on existing albeit against the will of the moonlight,

Even if the boats have been swallowed by the tempest
And the sea is empty. Even though the river has died and such death gave birth to a swamp,
The precise instant the water flow ceased.

There are nights that brand like an unwanted tattoo

And it stays, present in the brain, in the eyes of others, blindsided by the light of tedium.
There are nights that should be stopped, that should let us sleep,
That should crush and wring the pillow into our dreams, to put them to sleep too.

Have the eyes stop, the eyes that also deliver, shut, imagery for the inside,
Waste, garbage, everything is garbage, garbage that always ends in an abyss, the ultimate garbage of all.
If only I could still heed the warm breeze conveying the yellowish flavors
Tonight, on a night almost the same, almost the same numbers,
Were it not for the weight and burden of the dust, the dust that was brought from faraway, that is brought since forever.
Stockholm’s rain did not discourage the hunger for eternal nights,
The wind did not take away the want of open flesh, sweet Nordic flesh,

Only rabid foxes that'll cling to your legs for a mere glance, live in the hours of darkness
Unreal in the world where the seed was planted, so full of garbage,of soil and lands, of lives and deaths,

Of flesh that did not stay on, today only a few scars on tissue that refuses to regenerate.
Drink up, Drink up, and void the tedium with the annihilation of all senses

Any fiber of will, any given desire within walking distance, yet I stay on…
Stay in the unreal night that sticks to the skin, skin-tight, a black leech fattening on inebriated blood,

Where wolves starve to death, without a single sparkle in their dull eyes, and without a moon worthy of their howls.

The boats sink in the shadows, into the black and low waters of the river that leisurely dies,
Dreams cannot be seen with so much moonlight overshadowing, drowning out the stars.
There are nights that are not worth it, that should be spent on a bus
Crossing mountains, houses in ruins, moribund lands, and neglected bridges,
Heading towards the dawn of a new world.


25.08.2010


Torre de Dona Chama


João Bosco Silva, translated from portuguese by Sónia Oliveira

quarta-feira, 18 de maio de 2011


Aos Colegas


para a Sónia Oliveira,


Tenho entrado em veias diariamente e isto literalmente, não é poesia,

Se for é do tipo Bukowski: é vida, dói, mas é o que temos.

Têm-me sorrido com um ar agradecido, mas triste, no fundo triste

Como se, desculpa por a minha vida uma luta na tua,

Mas eu é que agradeço, não sei que valor lhe dão, espero que mais

Do que eu dou à minha. Se amanhã não acordar, haverá alguém

E o mundo continuará como se eu nunca e isto não é triste,

Tem é uma beleza real que olhos demasiado olhos vêem como triste.

A minha mãe escreve odes à minha roupa branca, umas vezes sangue,

Outras urina, saliva, outras merda mesmo, melhor que a desilusão

De uma linha recta que persiste, mesmo depois de trezentos joules

E incontáveis ampolas daquilo que as suprarenais deviam, mas o cansaço

É sempre tanto e a vontade, no fundo, é algo que nem sempre é suficiente

Para nos manter nós, por isso os outros, sempre os outros a ter

Um papel nas nossas vidas, mesmo que um indivíduo qualquer,

Vindo do sul e com os bolsos cheios de boa vontade de fazer o impossível

Para que possível. Gostava de poder dizer que tenho oito horas por dia

Sem ser poeta, mas na verdade os melhores poemas são os que escrevo

Nos monitores dos vitais e lembro-me de Miguel Torga, um pouco

António Lobo Antunes, a vida tem outro sentido, outro significado

E a poesia tem muito pouco a ver com palavras, mas devo ser dos poucos

Que estão enganados quando o polegar empurra o êmbolo e a vida regressa,

Outra vez, em cima de um cabelo frágil, cheio de si mesmo, até um dia.

Tenho pena que o infinito e a eternidade não sejam meus amigos, mas tento,

Sem necessitar de sorrisos com ar agradecido, mas tristes, mas mesmo assim

Obrigado pela vontade de amanhã.



18.05.2011



Turku



João Bosco da Silva



End of the World



It can’t be. I don’t want it. Leave it alone. Even if I am no longer breathing,

Leave the zipper wide open and my pallid face between the black plastic,

I must awaken in the meantime — don’t close it before I wake!

It’s impossible. I, the reason of the universe. I, that can open my eyes and create with them the city,

Cities beyond this one, by means of endless plans.

I invent the future with my dreams, the route with my desires,

Lying down and incapable to move? Impossible!

Who will chase the dog? Who will awaken to the scent of coffee at daybreak?

Who will embrace my love? Who will have the children I didn’t?

It can’t be. It's obviously a night terror.
I can’t shout, cannot budge a centimeter of my body,
There is no rhythmical movement of a respiration, nor can I feel any warmth over my temples,

I do not feel anything at all, just a half gray sky and a raindrop here or there that bothers

When it finally dawns on me. What am I doing on the streets, so far below them?

I should be asleep on the thirteenth floor, passed out drunk,

I should be slumbering in the bathroom, swamped in despair,

Because my problems are the worst in the whole world.

To die? I? Never has such conception been feasible!
And now, without a god, how will that go? This is, thus, a zipper that closes,
A darkness that swallows me whole, and then tomorrow, they’ll talk about me at work,

As if I was any another. I am not just another. I am Me,

The others… let it all happen to the others! Not to me. Never. It can’t.

I’m the center of it all. Who did this to me? Was it I? Who is weeping beside me?
I cannot move my eyes, I do not know who she is, but she says yes,
That it’s me. Can’t be me, I’m alive, I’m alive:
This is how it’s supposed to be, this is how I recognize me.
And now nothing? I wish to awaken! This is not for me, but for all others,
My time is not this one, it’s in a hundred years or more!

Because I know that one day, people won’t even die anymore.
And I’ll be lucky to live in those times. Will I have such luck?

Who awakens me? How can the rain still provoke my eyes?
Who cries for me? I refuse to consent that this may be my death,
She is not part of my plans, not true death.

In such wise, this solves nothing, I cannot even refuse.

Entomb me not in cold darkness, cry not for me!

Remember, as if this could keep me alive.

Can someone create me a god this instant? I’d like to ask if he could look away this time,Tell him I was just joking. I was kidding. This really isn’t wat I craved for.

If I didn’t know what this was, how could’ve I craved it truly?

The slide fastener ascends and comes close to my face,

I wish to shout, but there isn’t even an inner-scream within me, it’s useless.

With the last spec of light, just before the bag is completely shut,
I know my eyes will open. Flutter. Will they? Is this the end of the world?
A lonely end? While the others stay on, without staying really,
When someone dies, all those who stay behind die too, don’t they?
But what do I know about death? I am not dead. I cannot be dead.

I shall be the very last to die, without me, the world won’t be.



28.10.2010



Torre de Dona Chama



João Bosco Silva, translated from portuguese by Sónia Oliveira



terça-feira, 17 de maio de 2011


Um Ponto Final


As inofensivas uvas entre urzes e giestas, lá longe, a fermentar na memória

Que mata o cemitério de todos os mortos, até mais um, dentro de um reflexo

Até ao infinito e só o nada é do tamanho do tudo, dura a eternidade e nunca começou

De verdade, mais uns pés pequenos a esmagar ouriços debaixo de um castanheiro,

Que parece eterno, que parece mais real que todos os poetas juntos,

Um pico que se leva para casa, as mãos de uma mãe a procurar na caixa

Da costura uma agulha e um bocadinho de medo, quase como quando

Se abrem as pernas pela primeira vez, mais ao contrário e o sol dura pouco,

Logo começa a chover, a pele arrefece como se nunca houvesse verão,

Ainda com a pele nova a nascer, a areia longínqua a cair de lugares escondidos,

Menos a memória que fica, a sinceridade que se deixou em tendas de campismo verdes,

Onde a inocência não deixou que se fosse o maior, primeiro, sem interesse,

Melhor o último, melhor nada de todo, pára, não pára, abre não convida,

A inutilidade de todas as bandeiras como o excesso ao pé da fome,

Milhões em areia num deserto que ninguém conhece, mas todos sabem que existe,

E uma uva é tão pequena entre o polegar e o indicador, quase transparente

Quando se tenta ver o sol através dela, dourado o fio de azeite, alto, um raio de sol,

Sem o cheiro a musgo na sala, nunca mais foi Natal desde a última vez há tantos anos,

Tudo perde o interesse e cada aniversário é uma celebração do durar,

Como se isto tudo um concurso estúpido a ver, a ver, mas sem saber o que se está a ver,

Uma noite cansada, bebida para deixar o que se é na casa da casa, na almofada impossível,

Sem defuntos às costas, dos que partiram, dos que nos partiram, dos que possuímos

E nos possuem sem razão ou remorsos depois de se arrancarem da alma, ou algo

Que dói como tudo o que se é ao mesmo tempo, cortado por uma daquelas espadas

Dos anjos na bíblia ilustrada, com fogo e sabe-se lá que metal,

Sem interesse, porque no fim, já se sabe, depois de tanta vírgula, lá terá que vir um.



17.05.2011



Turku



João Bosco da Silva

sábado, 14 de maio de 2011


Uma Heineken no Infinito

para o meu tio Maurício,


Porra! Olho à minha volta e parece que ainda me cheira a medo de sueca

A dizer, outra vez e agora és tu e não consigo ser mais que um, quase que me asfixio

Com a ideia, há mil e muitos anos pequenos atrás, dos que são possíveis numa vida,

Com uma caneta emprestada de um hotel qualquer numa cidade que tento inventar

Todos os dias e amanhã (e, e, e) estarei só, sempre, desde que deixei de acordar

Naquela terra pequenina e tão grande, com o mestre a acreditar no amor de dezoito anos

Aos vinte e oito e eu também ou quase. Mais um golo de cerveja às tantas das tantas de tantas

E eu (e, e, e) só um, mesmo que as promessas me chovam como gotas frias das primeiras

Chuvas de Setembro. Não se pode fumar, não se pode viver, não se pode olhar, nem ser

E custa a estas horas de um dia que não será o último com quase certeza, quando amanhã

A puta da definitiva me andará a dar quase dores de cabeça, mesmo que seja a de um jovem

Da idade do meu pai (tenho saudades tuas homem das mãos de homem de verdade),

O meu avô, sempre o meu avô, fumou, bebeu e a vida tão boa quando se gasta, se usa

E que se lixe, é só uma, ninguém quer verdadeiramente perdurar sem sentir, para isso

Já há a morte. Ninguém sabe, nem eu, ó, eu que tenho a puta da mania de ser o maior

Ignorante deste mundo para o fim, como todos, sem universos paralelos, nem cigarros

De anos proibidos, nem beijos perdidos, nem cervejas roubadas, nem horas escondidas,

Nem mulheres molhadas e nem, e nem, sei lá, quem saberá. Ninguém me fascina, ninguém

Que me foi os meus dedos, a minha carne e à minha volta. O mundo não interessa

Quando se está à beira de um rio, de uma biblioteca, uma mesa de blackjack e nem

Um filho da puta que seja capaz de dizer o meu nome.

O mundo merece olhos fechados, sem vontade de amanhã.



11.02.2011



Turku



João Bosco da Silva

sexta-feira, 13 de maio de 2011


Hate is reasonable


I hate smiley people

When not everybody smiles.

I hate beautiful people

When some aren´t even completed.

I love to come on

Perfection,

Make it like melted wax,

Grotesque sculpture

Of my delusion,

My fists against

The blind eyes

Of universal justice.

Somebody throw up excess

As others would kill to eat

The warm gastric fluids from

Hot blonds, diseased by choice.


Sincerely world,

You don´t even deserve to

Lick my fat balls,

Just fuck you!



B.



Não Importa


para os meus afilhados,


Não importa, algo virá, mantém as mãos vazias, não deixes que as tuas nádegas

Se tornem raízes, não te esqueças das pernas, sempre em busca, seja do que for,

Mesmo que seja de algo para se buscar, algo virá, não te sentes,

O purgatório é uma sala de espera e tu ainda estás vivo e baptizado

E se é de inferno que gostas, muito fogo, muito pecado, daquele que se sente na carne

E não deixa dúvidas para a vida, longe da mentira asséptica de paraíso e tédio eterno.

Gasta a vida como se fosse tua, apesar de tudo é o único que é quase teu, que és quase tu,

Sem nome, tantos iguais, perdidos, em lápides, em descampados cobertos por esquecimento,

Heróis de antes dos tempos e cada dia é um novo começo para o fim, não importa.

Há quem agradeça, obrigado por me terem dado a vida de volta, será ironia (?)

Ou apenas estupidez, porque deus não existe e deus é teravidadevolta, não importa.

Sabes que os amigos não estão onde é impossível encontrá-los, mas que sabes tu

De impossíveis quando já chegaste onde te sentas agora, no topo da fronteira

Com o infinito, a um passo constante da eternidade, um fio de cabelo do comprimento

De um universo, onde dentro lhe corre o tempo, onde por fora lhe brilha o espaço

E entretanto contra as probabilidades pequenas tu és e realmente, não importa,

Segue, de pé, sempre em pé, em frente que tu já és o que atrás,

És a esperança dos segundos que foram engolidos pelo nada, és o resultado de muitos fins

Por isso não importa, mais um fim, só te tornará mais, maior,

E já devias saber que mãos vazias têm mais espaço para agarrar o universo, não importa.



13.05.2011



Turku



João Bosco da Silva




10 000 fingers

I´ve fingered so many girls
In so many places:
I´ve fingered two in the same day
Without washing my hands,
I´ve fingered in dark corner
In city streets,
I´ve fingered in the middle of
A crowded dancing floor,
I´ve fingered in the middle of
A roman bridge,
I´ve fingered inside a cab,
In a two seat car as my friend
Was driving without imagining
My hands in that sweet shaved heaven,
I´ve fingered in movies, in public bathrooms,
With their sister on the other side
Of the room, in my sister´s bed
At an early age (same age I started writing
Poetry), her sweet fresh friends,
I´ve fingered in the bus,
I´ve fingered in the swimming pool,
And abandoned ships, river, beach,
Student parties surrounded by drunks,
I´ve fingered in my friend´s couch,
When he went to the toilet,
I´ve fingered in the school backyard
And the school teacher and in my mother´s car,
I´ve fingered hairy, red, shaved, dry, springs, nitro, teens, mothers, shy,
I´ve fingered engaged until the ring was lost,
I´ve fingered in the cemetery even if sounds weird
And dark it melted around my fingers like the candles,
I´ve fingered so many girls in so many places,
As much as I´ve written poems in so many ways and many places.
I´ve written much more poems (it is easier to be alone),
But at least they last longer and I hope, they´ll stay alive
Longer than the fingers that wrote them.
The reason is the same, I write, I finger them, I´m alive.

B.

Candy Shop


It´s hard to stand

The suns

Without cleaning

The RayBans

Before going outside.


Too many dull hours,

Heavy machinery

And clockwork

Meat and

Blood and

Shit and

Come to come.


Damned all the

Colors so painful

In my dressed soul,

All the rules imprisoned

In wet sweat panties

And skin too skin

And I have liters

Of words to spread

All over smiley

Pale faces, like

My uncle´s best schrimp

In the world,

Impossible at this time,

Somewhere in Paris

Creating art with pipes

As I finish this fast

To stand up

And talk with

The sun that

Was smiling at me.


We all have the same

In different cities,

Towns,

Villages:

Welcome to

The candy shop!



B.

terça-feira, 10 de maio de 2011


Saudações a Leopoldo María Panero


“eu que prostituo tudo, ainda posso

prostituir a minha morte e fazer

do meu cadáver o último poema”


Leopoldo María Panero


Leopoldo, sento-me nesta erva, uma árvore ao lado, outra ruiva que vale por

Todos os clones demasiado perfeitos, a ser deus com os olhos abertos e

Inconscientemente, faço o sol pôr-se com um sorriso irónico.

María, eles não sabem o que é ser tudo, mesmo o cheiro a ferrugem e pastilha de morango

Me faz perfume e gente e se fecho os olhos, um silêncio que não se vê,

Pés que nunca terminarão o passo começado, todos os joelhos em todas as igrejas do mundo

Por a razão errada e as orações não passam de gemidos invertidos

Antes do clímax enquanto se teme o fogo eterno.

Se houver fogo eterno, Panero, espero que haja (estando convencido que não, ardeu,

Arde tudo e no fim um carvão frio), espero encontrar-te lá, já que me parece que Espanha

Está demasiado longe e os manicómios são locais de trabalho para mim, que encerro o poeta

No cacifo sempre que me visto de anjo e agulhas e agradecimentos me chovem à beira do abismo

E o abismo é a ruiva que me escreve nas costas e acende estrelas verdes num deus que guarda

A loucura para os sonhos e as noites de papel, seios, púbicos, amnésia e cheiros estranhos de manhã,

Quando se acorda só, numa multidão barulhenta que crio em três inspirações desiludidas.

Às vezes não se consegue parar ou simplesmente exagera-se para que não notem

Que trememos ao sol, os deuses não podem tremer ou são esquecidos

Ou trancados onde a memória não chega ou tenta ignorar que se existiu.

Alguém me mete a alma num saco enquanto sinto aquela dor de Keroauc

Nas manhãs febris em cidades inventadas na ressaca de mais um dia.



10.05.2011



Turku



João Bosco da Silva


Aura, Bicycles and others



A blue dress among God, (I want to fuck God) and all His glory

Like a catwalk at four in the afternoon on an impossible sunny day

Two years ago a virgin, she sings what a half dozen beers and ciders

Oblige her to, and someone photographs the water, as if life goes beyond

A window of a houseful of photographs, where no one lives anymore to remember,

So nothing. And the teenager almost irritates me, but the silence sometimes (if someone panics

And cries softly) allows her an image of dessert, when life seems to be at its end.

The sun runs on, but it isn’t more than clouds, or people. Still, they run on.

And they become fat hornets, with raucous laughter between their wings, the moment

They walk away waving an open hand—before a closed one, and a mouth busy with other notes.

Bikes pass in other directions, more gods. All my flesh is credent,

And every thought is a prayer dictated directly by fact.

Green eyes, old flags of rich babies turning the existing wind,

A slight pain like those who breathe, or feel the weight under their feet, the weight and

The impossibility of becoming eternal (and sometimes legs are crossed open and infinitely.)

The Museum of Contemporary Art waits for the Sun to get tired, or for the grey to come in climax

And bring visitors to the inert colors inside, trapped between four walls with a possible humidity,

The kind that molds, not the kind that gives headaches and drains life

Whilst you read for a resolution. All this harmony, the sound of pages leaved by fingers

Slightly perspired, in the shade of a tree that awakens, dogs walking owners,

Books providing inspiration for dreams of undeserved naps, the whole balance,

With a strand of hair blown away by the wind, damaged:

“Whenever you want, wherever you want it,”

Usually, I rather life force me… or maybe not.



09.05.2011



Turku



João Bosco Silva, translated from portuguese by Sónia Oliveira