domingo, 2 de janeiro de 2011



O Fim


A estrada chama-me uma vez mais, a distância puxa-me,

Os olhos escurecem e não são lágrimas, a chama apagou-se

E é o fim, mais um fim, todos os dias menos um, menos uma,

Medo de se ser mais uma e nunca mais, nunca mais porque é o fim.

Na multidão os olhares já não se encontram, os dedos não se tocam,

A presença torna o ambiente pesado, os lábios fingem um sorriso

Onde só dentes, só porque é o fim e não se quer admitir que é o fim,

Outra vez o fim e tudo passou, tudo foi e nunca mais, nunca.

O caminho húmido pelo que escurece os olhos pede presença mais uma vez,

Passos resignados a um destino incerto de pé no ar,

Para um fim, sempre que mais um passo, um amo-te que fica no vazio

Entre dois que nunca conseguirão ser um, nunca mais, porque chegou o fim,

Nada fica a meio, tudo chega ao fim, até o cansaço, até a dor, até o prazer,

Uma ejaculação num corpo quente que se julga mas afinal mais um,

Mais uma explosão hormonal a enganar com sentimentos e tretas finitas,

Só porque o coração bate mais rápido, os olhos brilham e a chama

Crepita-nos palavras que parecem ser mais reais que o sentimento,

Que a pele apertada que envolve a vontade de sinais e beijos sofridos.

Os antigos fantasmas são tão reais como os que rasgam a carne

Nas noites solitárias entre tantos, tão poucos, com a estrada vazia,

À espera, sem razão para se esperar o que já partiu, o que chegou ao fim.

Passou e a mão ficou no ar à espera, desamparada, até que a chuva a acordou,

Até que os cães ladraram à madrugada onde esteve, até que o vinho acabou,

As lágrimas secaram, os corpos suaram desejo, os orgasmos vieram, os olhos se fecharam,

A magia acabou. A estrada chama, chama para mais um fim,

Já que este acabou e isto é o fim.



02.01.2011



Torre de Dona Chama



João Bosco da Silva