domingo, 16 de janeiro de 2011



Prenda de Natal


Uns gemidos de quem acorda ao lado,

Numa cama desconhecida, com o sol

A teimar em lamber a pele ressacada,

Um corpo, quase estranho,

Ainda entranhado

Nos apêndices possíveis e

Viva a manhã de Natal!


O rumor universal

Nos lábios húmidos de uma mulher do sul,

Gemidos de quem não pode esperar,

Umas boas festas,

Como devem ser dadas,

A carne e fogo

E uma ejaculação nas mamas

Ainda brilhantes da saliva

Da sede de cão danado

Em busca do amor natalício,

Da verdade e da felicidade

Que vem e vai

E nem dá tempo

Para se tatuar na memória.


Um corpo quente do sul,

Com um castelhano cortado a Sol,

É a melhor prenda de Natal

Quando se é um eterno solitário.

Abre-se e a magia é essa,

Depois apaga-se, esquece-se,

É a vida.



Feliz Natal…



25.12.2010



Torre de Dona Chama



João Bosco da Silva



Uma Pedrada Ao Lado da Evidência


Um mesmo lugar, uma outra hora, mais frio, mais anos,

Menos esperança no que está para nos deixar continuar e mais um poema,

Mais uma pedrada contra o esquecimento,

Mais um gesto tão inútil como ridículo.

Roça um cão nas pernas cansadas, outro cão, enquanto outros ladram

E fazem da vila algo vivo que mergulha na noite e na solidão

E o sino quando toca parece acordar o vazio que habita cada coração desiludido.

A luta vale só por si e a derrota é algo que é certo e morte.

Morre-se tantas vezes em tanta gente, em tantos lugares

E mesmo assim o medo toma conta das mãos que se afastam da felicidade

Para escreverem mais um poema num mesmo lugar, numa outra hora,

Arrefecendo, envelhecendo, atirando pedras aos mortos que nos povoam,

Para que não nos esqueçam com os seus olhos virados para a eternidade.

O que é eterno é nada e um momento é um universo pequenino.



14.01.2011



Torre de Dona Chama



João Bosco da Silva