sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011



Quando É Tarde Antes Do Fim


O interesse está dentro das mão vazias, que te pedem a carne,

O sangue, a dor amarga do anoitecer frio, dentro de uma caixa demasiado grande,

Quando o mundo acaba a cada segundo que caí no poço do vazio,

Para dar espaço ao que cresce antes de cada passo dado.

A morte é apenas aquela palavra que se sabe que é mais que isso,

Que é a única palavra real que não se sente e a vida é o que permite tudo o resto,

O possível e o impossível dentro de quem nem sempre sente o chão,

O amor é daquelas palavras como deus e não passa muito de mais um punhado delas,

Inúteis explicações as dos homens para as suas ilusões infantis,

Quando a sua fome é só uma e o tempo passa e o corpo deixa de ser cada vez mais.

Um dia, não interessa que haja aqui gente a lembrar aquilo que fomos dentro deles,

Porque nunca fomos aquilo e é uma afronta reduzir um universo a uma ideia,

Um nome e meia dúzia de sorrisos partilhados em noites duvidosas,

Beijos ácidos entre o beijo e o futuro, orgasmos falsamente arrependidos,

A uma saudade egoísta, que não passa de um: eu queria-te aqui, agora que já não estás,

Agora que não podes fazer nada, que o teu sangue frio e o meu corpo esquecido do teu calor.

O perdão quando é demasiado tarde tem um sabor a mórbido e ridículo,

A falso, a prostituição, amor em troca de morte, lembrança em troca de perdição.

O interesse está dentro das mãos vazias, tão brancas ao luar frio de uma noite de Dezembro,

Onde nascem tantas mortes antes da real, sem se perceber a subtileza do último suspiro,

O último olhar quente, o último vibrar e um adeus dentro, silencioso,

Quase escrito na pele que as unhas tantas vezes rasgaram e os passos levam tudo,

Para onde tudo vai, de onde tudo veio, do silêncio que um dia foi cortado por um choro,

Por um olá, por uma música que tantos outros gostam, por um sorriso, um olhar, um poema.



11.02.2011



Turku



João Bosco da Silva



Something about Pereira


There is this guy in the bar

Always with a glass of cheap wine,

Always drunk,

With his rubber boots all seasons,

Lost inside of himself,

Repeating always the same,

Living his nightmares silently,

Moaning sometimes,

Dirty, but shaved.

Sometimes he sleeps outside

On the street,

On the floor, alone,

Like a dog without master,

Drunk.


There is this guy who was

In the war, fought for the country,

Big crap to fight for,

And now the country

Sees him as a joke.

Younger man

Look at him as a broken, old toy,

Pay him drinks to watch him

Fall from the bench,

Take his hat away,

Hide his food, his few belongings,

And laugh like that was a funny thing.


There is this guy with no wife,

No children, no real friends,

A ruin, a memory,

Far away from the bar,

Far away from the younger guys

Around him, at midnight.

While this guys are laughing

At his misery,

Their friends are banging

Their wives,

Their daughters are blowing

Some cock inside a car,

And they may never live

As long as this old guy lived.


There is this guy in the bar

As free as a man can be,

With nothing to lose,

With nothing to prove,

Lost in his own world

Because the outside world

Has fucked him enough.



B.



Who will be the last one?


Who will be the last one,

The last to cry,

The last to laugh,

Crazy,

The last eyes on Mona Lisa,

Before it´s erased forever,

The last knowing the word Love,

The last not understanding it,

The last language,

The last broken dream,

The last sigh before the last?


Who will finally kill god,

Taking Him to infinity,

The last to believe, or not,

That this had no meaning?


Who will be the last face

Touched by the Sun,

Before it hits the ground,

And won´t have the chance

To be buried?



I won´t,

Even so I will

Die alone.



B.