sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011



Resumo Resumido de “Une Season En Enfer”


Longe de nada, no centro do que poderá ser, se for,

Com os carros estacionados lá fora, o café a fazer companhia,

A banda sonora de um filme qualquer, que já gostei mais,

Só porque lá fora estava um dia cinzento e hoje até faz Sol,

Uma lucidez de quem dorme bem, de quem não perde a noção do que bebeu,

Nem bebeu, de alguém que já não tem o indicador amarelo,

Nem sente dor e nojo só de pensar no passado, porque foi

E foi o que tinha que ter sido e já cá não está, só um pêlo no café,

Que rapidamente se remove com um dedo rápido.

Tudo parece uma avalanche em câmara lenta, de onde se pode

Retirar momento a momento, o que valeu a pena:

Aquelas gargalhadas, as lágrimas inúteis, as mãos nas costas,

As unhas, os abraços de há muito tempo, os suspiros,

Os bocejos, os beijos, os meios beijos e os que quase, as rapidinhas apressadas na rua,

As esquecidas no carro, os jantares até o vinho acabar e depois mais vinho,

As conquistas dos bares e das discotecas, o nosso nome dito com alegria,

O nosso nome dito com ódio, com tristeza, com indiferença,

As saudades antes da partida, a despedida de semanas,

As cervejas à geada, os serões até abrir o primeiro café da terra,

As caminhadas no Sol quase quente das manhãs frias do regresso,

A lareira e o crepitar da amizade à sua volta, os beijos roubados,

Os beijos recusados, a braguilha que não se quis abrir,

As festas incontáveis, os litros incontáveis de fino, os cigarros partilhados

Nos momentos mais difíceis, afinal tão simples, tão necessários,

Os murros nas paredes sem culpa, os gritos a quem não merecia,

Os olhares perdidos no ar, os olhares que começam o fim, os que comem,

Os que matam, os que pedem desculpa quando o orgulho não permite palavras,

As viagens quase fugas pela noite bêbada, os quase acidentes, os acidentes e a sorte

De não ter sido um fim pior do que o que podia ter sido,

O desespero, a esperança, o esquecimento, as derrotas e as vitórias,

As mentiras, as mentiras das mentiras e as verdades nas mentiras,

A sinceridade, a frontalidade e a falta dela, as conversas paralelas,

As que passam atrás e não interessam, as realidades alternativas, a desilusão,

Os montes e o Sol que nasce atrás deles e esse sim interessa,

O Outeiro, uma amostra de Nirvana, a Galiza como uma fuga,

As fogueiras pela noite fora, as garrafas vazias que fizeram as manhãs longas,

Acordar só, acordar quase só, adormecer sempre em má companhia,

O Johnnie Walker a descer pelos paralelos em direcção à igreja e mais além,

Um cão que espera sempre, o Verão que dura pouco e custa a aquecer,

A vizinha querida e as birras de quarta classe, o arrependimento único,

Os jogos, os jogos a sério, o amor e as coisas a sério, os amigos verdadeiros

Nos maus momentos, os maus momentos a tornarem-se lições,

Ler poesia com cerveja no Verão, ler poesia com vodka e vinho do Porto no Inverno,

O rio a tornar-se impróprio para consumo, as silvas que não deixaram marca,

As noites como tantas outras que não se esqueceram tanto quanto se acreditava,

As corridas pelos montes, a liberdade de estar sozinho no meio de uma tempestade,

O tempo que se tinha e as mãos agora vazias, longe de nada,

No centro do que poderá ser, se for, o tempo tornado momentos,

Os momentos tornados recordações, as recordações a fazer de nós aquilo que somos.



18.02.2011



Turku



João Bosco da Silva



A scared dog from 1:20 a.m. to 1:45 a.m.

It was 1.20 a.m.
And I was closed
Inside the bathroom
Reading poetry,
Away from all
The sounds that
Take control of my
Small rented studio
At night:
The refrigerator, the furniture,
The clock,
Strings from I have
No idea…

I was sited on the
Toilet with my pants on,
Just reading the night
When my up neighbors
Started to fuck.

She sounded like
A scared dog,
Sometimes more,
Sometimes less,
Almost monotonous
As I kept reading.
I don´t even know
If I heard the guy
Or if there was a guy,
But after five poems
Came some silence.
Then somebody pissing,
Toilet flush, somewhere
Around me water
Throgh pipes inside
The walls
And then silence again.

It was 1:45 a.m.
And I realized that I had
To read the poems again,
Because I was paying
No attention.
I think I like sex
More than poetry.


B.


The sewer


The sweet childhood

And all the moments

That made us

As we are now,

More or less.


Like that time

When I stayed

Inside the classroom

The whole morning break

In second grade,

Because I was afraid

Of been beaten again.


I was afraid of

Those two kids

From the six grade

That once spanked me

On the way home

And tried to throw

Me in this open sewer,

On a rainy day.

Some old lady,

Who I´m sure

Is dead by now,

Made them run away,

Before I was thrown.


I wanted to pee so badly,

But I was scared

And so, I just did it,

Slowly, silently, painfully,

In my pants,

While I pretended

To be reading something

From a book.


So now, when I´m afraid,

I don´t give a shit anymore

And I just go for it,

Because in the end

The result will be

The same.



B.