sábado, 19 de março de 2011



Neurofisiologia De Um Poema


“everyday is in eternity”

Allen Ginsberg


Deixar cair, gota a gota negra, a mancha tomará forma,

Alguém a irá ler da maneira que a irá ler, cada um com o seu egoísmo,

Cada um com a sua área de Wernicke a dar corpo visível de olhos fechados,

Pequenas luzes, “small-bangs” do nada que são as palavras,

Quentes e metálicas, solitárias, nunca compreendidas realmente

E por isso umas putas, miserável cão vadio, lixo, lábios rasgados

Num apressado roubo para o vazio de menos um segundo que não se levará.

Deixar cair, deixar correr, sem medo, sem grandes dedos apertados,

Sem grandes olhos no horizonte, tão longe quanto impossível,

Corvos que entram pelas janelas fechadas e se fazem coloridos,

Pintam, água fresca na pele ondulada debaixo da dura mater,

Como se fosse possível tocar-se alguém de verdade,

Como se tudo não passasse de uma masturbação assistida,

Ao lado, enquanto os olhos se fecham e nem se vê o som da boca

Que auxilia, tudo parte de dentro para dentro e há quem diga,

Sou um pedaço de merda, mas eu quero três mais três mais três,

E isto faz sentido num mundo que ninguém saberá ler,

Não como os que iludem com a aparente semelhança, linguagem universal,

Só aquela que ensinam os sonhos, vestido azul-turquesa e o cabelo loiro

Da pele artificialmente morena pelo Sol deslocado da Tailândia,

Com fome límbica e um salto para outro estado de consciência

Quando o cabelo ruivo incomoda na almofada,

Alguém puxa o autoclismo e esquecem-se os desejos do momento.

Deixar cair, oxitocina e nada mais que um excesso dela ou sensibilidade

E no fundo tudo o que se quer evitar é o que mais atrai, cérebros primitivos

Engolem tudo numa simplicidade objectiva, estar dentro, ser penetrada,

Expelir, comer, dormir, palavras e mais palavras e quem quiser,

Quem conseguir, quem acreditar que as torne em deus, amor e espírito,

Verdade de sumo quente a explodir dentro como se fosse uma vida nova,

Uma estrela que morre, um buraco negro que atalha até ao outro lado,

Enquanto tudo um instrumento musical num quarto vazio, onde dizem

Que dorme deus ou uma consciência de arquitecto, como se tudo

Não fosse apenas um acaso possível dentro do infinito de possibilidades

Até se deixar de ver a linha como um ponto um ponto um ponto,

Deixar correr, livremente, sangue de outra cor, a cor que se quiser,

Quem quiser querer seja o que for, até chegar a hora que é sempre a mesma

E só a consciência do relógio viscoso torna o tempo possível

Em direcção, em direcção e isso é tudo.



19.03.2011



Turku



João Bosco da Silva



American woman


I knew she wanted me

To hurt her old buddy,

They always want

Me for another reason

Than myself,

But I don´t care,

As long as I do them.


He had this party

At his flat

And it went out

Of vodka,

She wanted it

And we were already

Wasted with

Laughs, alcohol,

Kisses from random people,

Excited,

She was really horny,

I could tell by her

Huge pupils in

Those purple blue

Eyes.


I said I had vodka

At my flat,

So we went there

For it.

No vodka,

I forgot I had drunk it

Some other night,

With some other girl,

I had only port wine.

She tried it,

First time

And she liked it

(It doesn´t happen

All the first times).

Soon the bottle

Was empty

And the kitchen

Was warm,

Then

We started kissing

With fury, almost biting,

Fleshy hot lips,

Nham nham.

You´re a whore,

She told me

And grabbed me

Like a horny cat,

I pushed her

With my body

Against he wall:

Sparks from

Her face

Around the kitchen floor,

Big tits, huge beautiful

Tits on my mouth,

Hands full of her juice

That I had to taste,

Bold like baby´s skin…

Jesus,

It was my first American!


It was her goodbye party.

Next day

She was gone,

I would never see her

And I´ll never forget her,

Even that I was

Just a whore for her.



B.