sexta-feira, 1 de abril de 2011


Bater Palmas E Sete Palmos De Terra Nos Olhos


As mãos nunca perdem quando a luz se apaga,

E os bolsos cheios de nada, pesam a cada passo no vazio,

Por cima de todos os cadáveres que são o que se é,

Caras pálidas quase desconhecidas com medo de rugas

E nojo a cabelos brancos, olham com olhos de eternidade

O andrajoso presente, escravo de passados e futuros incertos

Com a certeza no passo em falso que espera na verdade da hora.

(Mais uma chávena de café da cafeteira de alumínio

Que não pertence a nenhuma avó, só o aroma quase infantil

Quase perdido entre o tempo que nunca mais voltará

E o tempo que poderá nunca chegar a ser,

Longe, perto das torradas com manteiga e açúcar.)

O limite é tão visível nas mãos, o fim da individualidade,

O início da partilha, seja qual for, as mesmas para rezar,

As mesmas para derreter as entranhas de uma mulher,

As mesmas que lhe abrem as pernas e auxiliam,

As mesmas que levam a comida à boca,

As mesmas que fizeram o sinal da cruz na cabeça do afilhado,

As mesmas que limpam o cu e as lágrimas e a boca,

As mesmas que mataram, que foram sujas com sangue,

Merda, mijo, terra, vinho, folhas secas, morte, esperma, vida,

As mesmas que suturam e cosem as meias rotas dos filhos,

As mesmas que são necessárias ao fellatio do cigarro,

As mesmas que empurram o embolo para a vida e para a morte,

As mesmas que acendem e apagam o interruptor

Quando à noite se ouve um barulho e há medo,

Ou há só medo, ou solidão e um momento esquecido

Nas mãos, que nunca poderão estar cheias, nem vazias

E nunca serão mais que mãos, com o seu vazio

De infinito, as suas possibilidades para fins e nada.

(A vela está quase no fim e os aniversários felizes acabaram,

Não se batem palmas para as dores que vêm e ficam, não se batem palmas

Quando as mãos têm atirado demasiada terra contra caixões

De quem já nos espera na eternidade.)

Agarra-se tudo com uma vontade, com um desespero,

Com uma fome, que até parece que a vida é definitiva.



01.04.2011



Turku



João Bosco da Silva