quarta-feira, 20 de abril de 2011


Flash Naquele Dia Antes Da Noite


Um sorriso e uma dor de cabeça, uma ilusão e uma sede de nada

Que só o vazio pode desmentir, haja chuva quando se morre seco

Que nunca se terá aquilo que se esperou às seis da manhã

No sexto piso no dia seis de um mês impossível,

Enquanto comprimidos brancos fazem a vez de momentos

Que deixaram de se sentir nas veias, nas circunvoluções

Do esquecimento inevitável num dia de chuva com gente vestida

Para parecer triste, muitos só porque tem que ser e parece bem.

Quantos fazem lembrar aqueles tios que queríamos ser

E depois nem perto, um doente terminal fascinado por postes

De alta tensão, cansado nas pernas da vida pelo peso do seu fim,

Teias de aranha e madeira apodrecida, a sua casa enferrujada,

Tão rico, porque as mãos abriam-se com facilidade de alegria.

Matam-se nos copos, bebem o cérebro, torna-se difícil

Limpar o próprio traseiro e a culpa é do peso da vida,

Demasiado única, excessivamente importante, única coisa importante

Para se levar a sério, um sorriso, uma dor de cabeça, uns minutos atrasado

Pagos com a eternidade, a dor, uma grama pelo fim,

E os perdidos, alienados, que querem salvar os caídos do abismo inelutável

E mais vale colher a merda de um cão que se leva a passear

Como que para ocupar uns segundos a mais,

Que perto do fim se daria tudo o que nunca se teve de verdade,

Porque não se tem nada de verdade a não ser a vida que se perde.

Não há música que desculpe a inevitabilidade de um azul demasiado escuro

Do tamanho da eternidade, fazendo o infinito parecer pequeno

À luz da evidência mais forte que todos os deuses.

Despem-se os anjos e nada se revela, apenas uma imagem de fome,

Uma dor de quando não há dor, um reflexo a encher bacias brancas

Que deitam no abismo sacos cheios de sonhos que nunca chegarão a sentir a queda.



20.04.2011



Turku



João Bosco da Silva


Filho da Puta


Não há dois olhos abertos que valham a pena, não há,

Não há gesto que mereça sinceridade, não, não há,

Nem um dedo no jornal, sujo, nem um copo vazio,

Nem além de umas lentes um olhar, não há, não há nada,

Nem uma médica a dizer (como que a perguntar):

Não quer ser reanimado se, e se é ser não ser mais

E não há, não há: filho da puta!



18.04.2011



Turku



João Bosco da Silva


Como Vomitar é dizer de Mais


Sou tão intelectual de livro aberto a olhar

Tudo à minha volta sem ver nada,

À espera de que alguém note

A minha miserável existência – pensa um careca

No fundo do bar.

The Smiths, outra vez e eu

A pensar em gordas rapadas de dezoito anos.



B.


Saudades


Se o meu avô soubesse que dois contos e duzentos por duas cervejas

Às seis horas da tarde numa cidade impossível no seu mundo maior

Apesar de parecer pequeno, carregava a de dois cartuchos, horizontais,

A que um dia me irá espalhar o cérebro e a miséria pelas paredes de uma casa inocente,

E assustava a família toda numa noite quente de aqui a três meses,

Três meses, depois do jantar, sobremesa: salada de fruta com vinho do Porto,

Cerejas, lágrimas e nunca te perdoarei por teres ido antes de eu ser quase homem.



Turku



19.04.2011



João Bosco da Silva


Olá, Quem És Tu?


Ela diz que me conhece, que sabe que eu gosto de Nietzsche

Desde os meus dezasseis anos, que tenho Pessoa tatuado no corpo e na alma,

Que a cerveja e as mulheres são a minha fraqueza e a minha perdição,

Que o Homem-Aranha será o meu eterno amor, que a minha vida passou de moda

Há mais de cinquenta anos e que o que escrevo a faz cruzar as pernas,

Chorar e engolir o meu esperma… sinceramente, ela sabe mais do que eu.

Espero que me consiga arranjar uma definição que satisfaça

A pergunta que tantas vezes me faz rir: Quem és?



Turku



19.04.2011



João Bosco da Silva



Sweet Fucking Sixteen


She was sixteen and

She offered her ass to me

As a Christmas gift,

I didn´t accept it

For I was over 5000km away.

She used to fuck her

Art teacher

An over 30-year-old drunk hippie

And loudly even in a crowded bus

And called me devil.

Once she invited me to fuck

Her in the cemetery

But the only thing I gave her

Was a pack of cigarettes near the church.

After all I crossed the law,

But not the time I was passed out

And she rubbed her red haired tits

On my face, after she fucked

My good friend.

Somehow I miss her calls after

She had sex with her girlfriend,

But I´ll never forgive the time

She texted me she was dying

And in need of someone

To take her to the hospital

And then, sex sounds

And a stupid joke without wolfs.


I wonder if I had wasted my sixteen

Starting to write poetry,

Playing videogames and falling in love

With someone I will never taste.



B.