terça-feira, 3 de maio de 2011


Sentado À Beira Do Fim Do Mundo


Sento-me à beira do fim do mundo e nada em mim é o que pensei que viesse a ser,

Como sempre acontece quando finalmente o presente chega iluminando

A escuridão, o mistério a dúvida e o medo, apenas ossos brancos, uma nudez de sem alma,

Um vazio que não se sente como quando ela abriu as mãos e a areia é sempre demasiado fina

Para os dedos que tentam iluminar um quarto vazio sem janelas à meia-noite de um sorriso.

Ninguém se deixa ir quando o abismo chega, ninguém se desvia dos flocos brancos

Da neve eterna que se torna gente e rugas e um coração cada vez mais seco,

Mais pesado com os anos que se perdem na eternidade de uma que não será de ninguém

E os vencedores são uma ilusão, demasiado barulho numa noite de cansaço

E inevitabilidade, enquanto casas são demolidas e ao lado estátuas iludidas para sempre.

E o resto são lágrimas evaporadas no calor infinito de uma estrela que agoniza,

Uma luz que parece cortar o infinito, por um instante, que quer valer a pena,

Quer encontrar o seu lugar, quer ser criado por alguém, o ridículo de crianças

Que não querem crescer e tomar o lugar dos que afinal também sofrem e serão os avós

E caixas fechadas escondidas por terra como se fosse vergonha da fragilidade.

Secam os amores, morrem deuses e outras mentiras e à beira do fim

Só valeram a pena os sorrisos pequenos, as unhas sujas de terra,

O cheiro a suor enquanto o sol, a liberdade encontrada na companhia dos montes,

O sabor a medo do primeiro beijo, a ejaculação apressada da única vez verdadeira,

O colo da mãe, o abraço seguro do pai, a admiração da irmãzinha tão grande, maior,

As palavras que os amigos não têm que dizer porque o coração canta e é sincero,

Os brinquedo favorito debaixo da almofada e aquele que se perdeu

E viverá para sempre além da escuridão, além do fim do mundo, na companhia delas,

Quando todas as portas se fecharão no vazio, tornando impossível o que foi um universo.



03.05.2011



Turku



João Bosco da Silva