quarta-feira, 4 de maio de 2011


Dizem… cospe-lhe na boca enquanto tentam


Não interessa e nem sei o que não interessa, mas se é, acabará,

Por isso, nem me levanto, entra entra, sou um poeta, sabes o que é um poeta,

Senta-se, nunca está sozinho, atravessa a noite asfixiante com carne quente

E sedenta de mais carne e sente-se um cadáver seco num deserto sem estrelas,

E escreve, escreve e não se interessa com o sentido que possa fazer fora,

Porque o que o faz escrever é a ausência de sentido

E escreve na mesma língua da razão da vida, a língua dos deuses,

Um dia não haverá olhos e a morte será para todos, para os grandes

Só porque mais olhos em cima, não interessa, mesmo, nada, haja caminho

E Johnnie Walker e um sofá para repousar o corpo que nos matará a alma toda

E a possibilidade da eternidade que a carne nos mostra, uma ilusão de palavras,

As mulheres são os melhores poemas que alguma vez escrevi e nunca serão meus,

Nunca mais depois de sair delas, não sei se sou eu que saio dos poemas,

Se são eles que me abandonam como merda de mosca em forma de letras,

Palavras, quase pensamentos, a sério, não sei e não vale a pena, não interessa,

A luz apaga-se e amanhã ao passar pelos jardins, terei mais uma vez inveja dos jardineiros,

O aroma da terra aberta, como uma mulher à espera da minha penetração,

Como um poema que pinga das falanges e não quer ser útil, apenas possível

E torna-se maior que deus, que a vida eterna e que os sonhos assassinados pela realidade.



04.05.2011



Turku



João Bosco da Silva