quarta-feira, 20 de julho de 2011


Sem Coisas Profundas Também Sai Poema (desnecessário)


Lembras-te daquela noite no Carnaval, um baile de finalistas, um de muitos, do sofá ao fundo,

Lembras-te dos meus dedos na tua pele, da minha língua bêbeda com quatro ou cinco cervejas,

Do meu amigo no sofá em frente, agora casado, com a mesma, mas agora mulher e o que terá

Corrido mal para a resignação ter sido tão precoce, ou bem para… não me fodam!

O meu mestre comeu-a, as adolescentes são demasiado fáceis e é injusto e a vida morre-se

E não passa de uma adolescente e é injusto. Serei o único a levar as noites ao limite do estômago,

Ou serei o único que não leva a sério isto que é a brincar antes da eternidade, têm-me faltado

Pontos de interrogação, mas não é por falta de dúvidas, é mais por orgulho, falta de humildade

Nos dedos cansados de humidade e tenho dito tantas vezes não, que tornam as vitórias dos heróis

Pequenos em cervejas quentes e apressadas, como uma masturbação de uma semana sem carne fresca.

Meus filhos, eu conheci Ginsberg e nem Kerouac me disse nada acerca do que estou a fazer,

Por isso continuo, porque não há mais nada que seguir em frente, siga, que o abismo lá espera,

Hajam ratas e adolescentes idiotas e mães esfomeadas por um pedaço de carne e um sorriso,

Um elogio que lhes ressuscite a beleza (a juventude é contagiosa mas não dura na realidade),

Haja ilusão e amor e outras ilusões que se sentem mais que a dor, paixões, ejaculações porque:

Ai que me venho e o resto que se lixe e o resto depois a possibilidade de um universo, de mais uma morte,

Tenho tido colegas a engravidar, tenho afilhados, tento adiar a sorte, bebo com pressa, não venha

Algo sem a minha vontade bater-me à porta e dizer: lembras-te do joelho de Rimbaud

E eu respondo, haja sangue como Kerouac, mas dentro, sem chumbo, que o velho Hemingway

Devia ter esperado pela morte, mas quis ser mais fraco, ou forte, ou não sei, porque

Os meus amigos insistem em levar a mal as minhas quase tentativas: e eu com isso? Venham antes,

Não se armem em corvos, mas não me faz falta, a sério que não, hajam tios e copos para encher de vazios.

Lembras-te? Quase foste uma paixão de adolescente, quase que vivias para o meu sempre possível,

Quase que te fazia musa de demasiados poemas (maus), sempre maus quando escritos com “amor”,

Ou o caralho que isso for, mas lembras-te? As tuas nádegas duras nas minhas mãos esqueléticas,

O meu tesão (sei como te domar agora cabrão), quase a rebentar-me nas calças e uma bebedeira

De pouco mais do que quatro ou cinco cervejas. Dava o dia todo de hoje, a meter vida em veias,

A recordar conquistas que muitos invejam, só porque pensam que é muito melhor do que o que é realmente,

A recusar o convite para uma orgia (pronto, a três) numa cabana em Perniö, só porque o cansaço

E também a falta de bolsos para mais memórias desse tipo, e haja cerveja e uma

Descendente sueca à minha espera no bar irlandês: isto não é poesia? Então? Matem o gajo que só tem um poema.

Fartinho de o ouvir, lembras-te, afinal és grande nos pequenos, eu não chego a existir

Nem nesses, nem noutros, sou e chega-me (não, não falta nenhum ponto final)



20.07.2011



Turku



João Bosco da Silva