quarta-feira, 3 de agosto de 2011


Vai-te Deitar Que Eu Vou Dormir


Sorri-me nesse abismo, tão cerca de um pestanejar aflito no limiar do fim da infância,

Mas não tenhas medo, a excitação dos dedos apagou o calor do teu interior e no resto

A calma de um acordeão eterno, um morto que afinal encontras numa rua demasiado familiar

E tudo mais eterno do que aquilo que tu pensavas, arrependes-te, porque a morte mais longe,

Estupidamente esperavas que fosses especial, sem música e outras drogas, ainda cá, tu,

Vai-te deitar rapaz, que o teu mal é sono, garota. Abre bem esses braços, são a tua vida, o que vale

A pena, se um dia viveres até lá e tiveres saudades. Vou-te contar um segredo: o melhor poema

São aquelas palavras que vêm da saudade impossível pela distância, mais pelo tempo,

Porque não há sonhos como o desejo de outros tempos outra vez, não há sonho mais impossível.

Humedece um lenço de papel com a felicidade quase salgada daquela visita à aldeia

Que não és tu, cada vez menos tu, mas algo se move longe, além das montanhas que nunca conheceste,

Perguntaste porque será, os filhos dos teus amigos respondem-te com um sorriso que temes,

Mas é a verdade e nunca saberás, porque amanhã serás apenas a possibilidade do que serás amanhã,

Nunca tu, cheia de esperança na eterna cama daquele quarto que deixaste ainda com vinte e poucos,

Em Guimarães, Porto, Bragança, Tenerife, Londres… a sério que Paris também(?),

Pergunto-me se estas cidades, desde as grandes às maiores, te provocarão maiores dores de dentes,

Por palavras, omissões de actos cessados, no futuro apenas presente, aborrecimento e humidade

Da que espera, da que seca, da que morreu e agora a máquina de escrever de Borroughs,

À espera de Keroauc, Corso e o cu de Ginsberg a julgar-se melhor que Pessoa, com Pessoa a ser o infinito.



03.08.2011



Turku



João Bosco da Silva