domingo, 7 de agosto de 2011


Aquela Miúda Das Limpezas



Não é loira, se fosse loira não interessava, é um branco prata e eu, afinal um lobo fascinado

Pela luz da Lua naquela cabeça de lagos profundamente azuis, onde quero mergulhar,

Enquanto sinto aquele corpo pequeno a derreter-se à volta do meu desejo doentio.

Temo o seu cheiro e mantenho o sorriso à distância para que não se note que não sou

Grande domador de leões. As suas ancas são mais que água fresca, fluidas, numa montanha

De verão abrasador para a sede que o sal da sua pele morena, brilhante, e todo eu uma traça

Em direcção à sua presença de sorriso tímido e olhar provocador que procura sarilhos

E sei que tem unhas, têm sempre húmidas unhas e mesmo tendo eu sido amestrador de

Hienas no circo de feras infernal, sinto uma vontade de medo quando ela passa, de azul,

Pequenina, do tamanho de um abraço para a perdição, quase ilegal, voltando a cabeça,

Tentando ser espelho do meu fascínio velado, a caminho da mais uma casa de banho,

Arrastando o carro de limpeza, o que resta da minha alma algures no caixote de lixo,

Empurrando mais fundo a consciência dos meus anos e nasce uma revolta em forma de pergunta:

Por onde andaste, quando eu ridículo e da tua idade? Agora velho e ainda mais ridículo.

Passa, passa e leva tudo e o teu nome e a tua voz que ainda vibra e parece que é na caneta,

Mais fundo onde se tem pena das gotas de esperma desperdiçadas nas gargantas desesperadas

Por um abraço que me custou, quase como ver-te passar tão vazia de mim, tão vazia da vontade

Da minha vontade. Passa, passa, vai lavar a casa de banho, pode ser que me encontres por lá,

Noutros tempos, à espera da descarga do autoclismo, ou nos sonhos coincidentes de quem

Já não tem sonhos e deixa passar por respeito à frágil beleza da ilusão de uma inocência

Capaz de um orgasmo com o toque quente com o brilho lunar nas aréolas rosadas.



07.08.2011



Turku



João Bosco da Silva