quarta-feira, 7 de setembro de 2011


Requiescat In Pace



professor Ezequiel,



Hoje liguei a televisão, convencido de que o ia ver lá, em todos os canais: morreu o Professor,

Esperava dele mais umas palavras, mesmo que repetidas, contava que o resto do mundo sentisse

Com a mesma intensidade a grande perda, o Professor morreu, mas não, o mundo nem se mexeu,

Nem um rumor e eu começo a pensar que o meu mundo não é o de todos, as minhas mitologias

Pessoais, os meus heróis próprios, são restritos ao limite do meu mundo real e agora acredito

Em quem diz que é impossível ter cem amigos, impossível conhecer mil pessoas

Que preferia esquecer hoje pela eternidade do professor, eternidade viva, não a dos

Olhos fechados pelo cansaço da vida e na televisão mais uma vez uma cantora drogada, morta,

Uma princesa puta, morta, um ditador de bigode, executado, gente que não interessa,

Gente que não faz parte da minha história e o meu mundo é maior que a esfera ridícula

A ser azul e verde no meio da imensidão escura do universo silencioso, à espera de deuses.

Professor, nunca pensei que me deixasse de pé, na pizzaria da terra a falar sozinho,

As tardes de quarta-feira… o artista que tenho em mim, foi prenda sua e só tenho pena

Por ter trocado os traços pelas letras, as linhas pelos versos, mas se ainda fosse capaz,

Se a vontade drenada pela sua ausência neste dia tão cinzento me permitisse a tentativa,

Desenharia um retrato de si, a sorrir, com um cigarro apressado na boca, porque afinal a vida

Mais curta do que aquilo que todos os outros pensavam. O mundo perdeu mais uma cor

E hoje toda a gente do meu mundo se sente mais pobre, amputada de alguém que nos vive dentro.



07.09.2011



Turku



João Bosco da Silva