sábado, 17 de setembro de 2011


Psicose De Karsakov



“y por las tardes beberé

aguardiente

y el vacio

y la nada”



Pedro Juan Gutiérrez




mais um para a Isabel,



Onde se perdeu a casinha pequena junto à vinha numa aldeia isolada do interior norte,

Não sei, nem se sonhos ou projecções que ficaram na distância entre duas bifurcações

Que há um momento logo ali e já tão longe, com a minha filha da cor do teu cabelo,

Quando sonho contigo e lhe vejo o reflexo nos livros que tanto gostamos, onde procuramos

O destino, mas afinal o destino nas folhas em branco que apressadamente preenchemos

Para chegar onde não esperávamos, mas é onde a vida nos é possível, eu na desistência

E no cansaço do abuso moral, tu na constante luta e na fidelidade a ti mesma,

Mas Lisboa, também está longe da casinha na vinha e os sonhos não parar de chegar

Empurrando os que possivelmente levariam a uma felicidade mais pura, mais calma,

O cheiro a mosto no ar, os joelhos sujos da nossa pequena com o teu nome,

Com o seu cabelo da cor da terra fértil, mas a vida tem sido um excesso de aguardente,

De alambiques cansados pela ânsia de beber a vida e preenchê-la com confabulações,

Porque só assim se consegue viver noutro lugar além dos sonhos, longe, longe

Na impossibilidade das nossas conversas convergirem numa partilha genética e a felicidade

É afinal o que está a um palmo do limite da nossa força durante um momento,

Uma sucessão de promissores Outonos que se passam à espera do verde nu e escuro

De um Inverno de ressacas com o gosto amargo de desconhecidas, quando não há números

Que preencham o vazio de um nome próprio e de uns olhos por cima de uma mesa de café,

No limiar da vida para a vida, sem sabermos nada sobre isso, esperando que um dia

E o dia é hoje e cada vez maior a confusão, cada vez mais os nomes que têm filhos,

Que se casam pelo prazer de poder cumprir com as expectativas e fingir paralelamente

Que ainda não se cresceu, em hotéis baratos de província, onde perto vivem sonhos

À espera da vindima, do teu cabelo em alguém meu, os teus olhos na minha confusão

Que só tu pareceste um dia compreender e tentaste arrancar dos meus lábios

À entrada da despedida até um quase nunca mais, um nunca mais que ainda persiste.



17.09.2011



Turku



João Bosco da Silva