domingo, 18 de setembro de 2011


Jogar Às Escondidas



Um quase raiva que encosta às paredes do bairro velho, quase já sem paredes, uma ruína

Na verdade com a sua beleza, não fosse a quase raiva a tornar-se dor e mãos pequenas de mais

Quando alguém nos parte, sem avisar directamente, como aquele pâncreas e o médico

A exagerar, quanto muito chegará ao Natal e por quê o Natal, se há luzes que piscam

Quando não há mais nada a fazer a não ser deixar as paredes vir, esfarelar-se contra as

Costas de não poder fazer nada, porque os dados vão no ar e se tivessem sabido antes

Mais vezes dados enquanto ainda mãos e montes além longe, onde tudo uma possibilidade

Ainda, não depois do fígado se ter juntado à conspiração e afinal a eternidade

É só mais uma história de encantar, contada a adultos antes de adormecerem no infinito,

Entre velas que tremem, mãos que seguram as mãos e tão amarelo que está, a mão

Já morta e ele sem saber, no fim sempre um bom homem e valha-nos isso,

Já bastou a vida para nos provar maus, sem paciência pequenos e o pior que tudo, mortais.

As tardes em cima das cerejeiras e a camisa branca de domingo manchada tornam-se

Na óbvia crueldade doce do destino, os beijos atrás da escola da aldeia nos intervalos

Para o pão com queijo e marmelada a minguar o calor que tentam dar-nos, com pena

E com pena nunca se conseguiu enxotar um cão verdadeiramente, quando com fome

E abandonado há semanas, um dia acarinhado e agora pele e osso, arrastando-se pelas paredes

Que leva como pó ao pó que um dia de forma tão bíblica, se regressará, um saco de vácuo

Chamado esperança, quando a esperança alguém que se conheceu e também a fazer falta

Enquanto as paredes deixam de nos ser, o Natal quer-se longe, mais um ano ao menos,

Que num ano é possível chegar ao futuro e aí tudo isto um pesadelo ou uma piada de mau gosto,

Isto só uma dor na barriga, tantas dores tive na barriga quando as cerejas quentes,

Ou quando se brincava até anoitecer e só aí se dava conta que a dor fome, mas a vida

Toda ela uma fome, por isso é só um pouco mais de vida o que se precisa, para a dor passar

Nada de Natais e a família toda à volta de algo que não bolo-rei, nem polvo ou bacalhau,

Um corpo desistente, mas só o corpo porque por a dele, as paredes ainda a dar espaço aos

Garotos que correm, enquanto um conta alto, noventa e oito, noventa e nove, cem…



18.09.2011



Turku



João Bosco da Silva