quinta-feira, 3 de novembro de 2011


Física Quântica Para Melancólicos



Tudo é muito pouco quando se tem a eternidade apenas possível na cegueira absoluta

E a melancolia não passa de algo líquido resultante dos sentidos que se tornam cães

Ao ouvir o Sol nascer, longe, numa recordação depois de uma noite de chuva,

Onde uma janela quase de água e de distância, quando era possível diluir os desejos

Nos sonhos de infância e o toque dos lábios era impossivelmente quente

Em olhos tão vazios, e a memória não é senão um punhado frouxo de palavras,

Que se deixaram cair por desprezo, porque não se sabia que é tudo o que se tem para

Guardar no desperdício dos nossos suspiros, a chuva não ouve, a janela grita e a lareira

Apagada não chama gatos, é a chuva que os empurra para dentro da casa vazia, não

A promessa do carinho, numa mão cansada sobre o vazio e a solidão de Novembro.

Perguntam se alguém se lembra da idade dos cemitérios, responde-se com flores

E velas e visitas que no fim se tornam anuais se houver vontade, que tem chovido

E os ossos dos vivos não aguentam certas humidades, anda meio mundo a tentar

Derreter outro meio e no fundo andamos cá por orgasmos em luares de mármore

E anjos que arrefecem da hipocrisia do dia que não passou, nós é que passamos,

Sem ninguém se aperceber que um segundo ontem era mais breve e dá pena que o apocalipse

Seja só para alguns, lá perto do fim dos tempos, quando a chuva ficar suspensa,

Um sorriso durará mais que um reflexo, o amor será tão eterno como impossível

E as gotas de água na janela, serão vidro inútil de uma casa que começará pelo telhado.



03.11.2011



Turku



João Bosco da Silva