quarta-feira, 16 de novembro de 2011




Cheiro Do Tempo



Um cheiro como a morada de um outro tempo, se forem ignorados os sentidos restantes,

A madeira que arde nas lareiras, o fumo misturado com o ar frio e a humidade que cede

Às temperaturas negativas, olhos fechados e é uma daquelas manhãs em direcção à escola,

Passando pela esquina onde vive a mulher que nunca sai à rua e pede a quem passa

Que lhe coloquem as cartas, que atira desde a varanda, no marco de correio, falta o cheiro a bolos,

Os olhos abrem-se porque faltou a pastelaria e estranha-se o tempo em que o corpo depende.

Tão próxima tu, quando alguém com olhos tão diferentes, te carrega a presença no ar

E ouvi escrever que é impossível amar alguém sem cheiro, pergunto-me que perfumes

Terá usado a minha mãe quando eu ainda tão longe, mais perto do paraíso, as chaves

De viagens breves, ilusões de papilas gustativas confundindo a inocência com palavras grandes.

A lavanda sempre me tornou as mãos mais pequenas e as inspirações menos contrariadas,

O incenso tem o sabor metálico dos sábados de manhã entre granito, orações e cantos desafinados,

Os pêlos queimados são quentes como o sangue dos porcos que fumega na geada,

E as mãos doem no ar frio de Dezembro, mesmo que seja Abril e um cigarro aceso

Demasiado próximo, o teu suor, impossível de encontrar além do teu corpo,

Por isso procura-se a essência do luar na esperança de mais um regresso a ti.

Bilhetes para sonhos acordados, de recordações manifestas e um momento além da superfície

Das roupas que os olhos abertos nos vestem, os cheiros, uma quebra no tempo

Que corre pela eternidade e depende dos sentidos para se fazer notar no espaço que altera.





16.11.2011




Turku




João Bosco da Silva