quarta-feira, 23 de novembro de 2011


A Sombra Do Carvalho Para A Insónia



Antes de adormecer visita-me aquele carvalho centenário, numa aldeia galega cujo nome só

O gigantesco carvalho, quase se tem saudades da vida que nunca se teve, surge a sede

Ao vinho naquela taberna de outros tempos, hoje só portas trancadas e dois velhinhos

Sentados num banco de pedra ao seu lado, aproveitando o Sol que resta,

À espera dos melhores dias, o dia tornou-se verde-escuro, as unhas ainda têm a terra

Da manhã fresca e as mulheres, de lenço na cabeça, ripam couves nas hortas pequenas

Para o jantar, ouvem-se os chocalhos de algumas ovelhas que ainda ruminam ao ar,

Adivinha-se leite e queijo fresco daquelas mãos gretadas, os filhos estão longe,

Devem vir no Natal, os netos estão tão grandes, mas são da cidade, não demora em gear

E a lareira é uma companhia obrigatória ou a humidade nos ossos à noite, um desassossego.

Tudo isto conta o carvalho centenário, que tudo viveu, tudo guardou, mas os seus anéis

Contam os anos desde aquele inocente beijo até este Natal que vem com a nova geração,

Guardam a história da foice na perna do vizinho que andava a fornicar a filha do outro

No palheiro, à hora da sesta no verão, a do irmão que matou outro por causa das partilhas,

Antes inseparáveis, história universal e não se consegue dormir, quando a vida que nunca

Se teve, nos vem com promessas impossíveis, agora que a vida parece já ir a meio

E se vive tão longe daquela aldeia galega, onde a sombra do gigantesco carvalho

É apenas uma memória, ou a insónia numa cabeça que não consegue esquecer

Os passos que dá, mesmo que tenham sido só de passagem, em direcção a onde se vai ser.

O carvalho apesar de só raízes hoje, continua a acrescentar anéis e o tamanho

Não se mede pelos anos que se vive, mas pelos momentos que se levam para o sono.



23.11.2011



Turku



João Bosco da Silva