quinta-feira, 1 de dezembro de 2011


A Vida É Esta Treta Que Toda A Gente Bem Desconhece



E a vida é esta treta que toda a gente bem desconhece, inventaram-se palavras para lhe dar

Forma sentido, insuficientes, pequenas, sons inúteis no silêncio sideral, passa-se o tempo

A tentar fazer o tempo passar, como se os segundos dependessem da televisão ligada,

Da música a impor um humor, um ritmo ao coração que tudo estranha, que se sente

No meio de uma multidão de estranhos, todos os dias, mesmo em quartos vazios fechados

E folhas em branco, ou manchadas de vinho que diz-se, também ajuda, e começa

A parecer que a vida é apenas a crença de existir e tudo o que temos dentro são palavras

Que espremidas gotas de hormonas, as tais emoções que dizemos ser, um saco delas,

Freguesa que hoje estão fresquinhas e baratas, vendem-se pelas ruas onde o peixe apodrece

Escondido dos olhos e só o cheiro a becos escuros nas noites citadinas onde uma puta

Ocasional suga os filhos do futuro impossível, engole-os a todos de uma vez por cinco euros

E já pouco há a sujar na alma dos perdidos, nem as palavras pesam quando o esperma

Escorrega pela gola abaixo como mais um golo de whisky quando a noite já muito negra,

Rouba-se mais um pouco de aniquilação na explosão de uma super-nova química,

Ilumina-se a árvore de Natal em forma de universo e lá se vai mais uma vez para “casa”,

Encerrado o dia na solidão de um sofá queimado de cigarros, o espelho do interior abatido

Pelos anos de tanta espera pelo melhor que tarda mais que uma vida a aparecer.



01.12.2011



Turku



João Bosco da Silva