domingo, 11 de dezembro de 2011


A Inocência Da Masturbação


“Nada conduz a nada.”

José Agostinho Baptista



Será que foi naquela tarde ao Sol, com os joelhos verdes do musgo, as unhas cheias de terra

E a testa com gotas minúsculas de um suor de felicidade, ou naquele gole de sumo,

Numa paragem incerta entre um mundo e outro em direcção a iguais paragens,

Ou naquele beijo roubado atrás do carro do pão, atrás da escola depois da catequese,

Atrás do tanque, atrás de algo, sempre os beijos que valeram a pena, onde terá ficado,

Perdida a inocência, terá havido, não há memória, é daquelas coisas que só se sentem

Quando se perdem, só se sentem pelo vazio que deixam, como o amor possível

É só aquele que é incompleto, deixando espaço para sonhar, para a ilusão crescer.

Perde-se a capacidade de chover segundos amargos, salgados na língua, com os anos,

Com o crescer persistente da barba e o empalidecer dos cabelos cada vez mais raros

E o coração só cresce para compensar a sua insuficiência, um músculo bruto

Que torna cada vez mais difíceis as inspirações inconscientes, tudo um passo já no ar,

E o pé no chão mal se sente, apressa-se o outro, passa-se e perde-se tudo,

Porque a passagem tudo, nós gotas e as gotas só gotas durante a queda, depois,

Depois acendem-se cigarros com a mão livre, enquanto se tenta encontrar o alívio

De alguém com os dedos frios, confusos nas pregas de carne humedecida pelo vazio

Da noite encostados numa árvore tristíssima, alguém numa varanda às cinco da manhã

E tanto frio, tão frio, como beber apressadamente só para deixar metade escondido

E ser o ridículo, o impossível de uma inocência forçada, perdida, esquecida e improvisada

Nas madrugadas frias, negras de mais um Dezembro, a vida um Dezembro sem Natal,

Uma Missa do Galo inútil, só porque nem ela, nem ele presentes, apesar do corpo de um,

O sangue de outro ainda envenenado pela melancolia, que tomou o lugar dos joelhos verdes

Do musgo, limpou a terra das unhas, tornou o suor azedo e doloroso, o sumo demasiado doce,

A incerteza um caminho, os beijos obrigados pela fome, iluminados pelo artificialismo,

Sem fé, nem moral, secos, como a árvore que presencia uma masturbação misericordiosa,

Arrependida da sua existência, uma inalação de almas que procuram o eternamente perdido.



11.12.2011



Turku



João Bosco da Silva