sexta-feira, 27 de janeiro de 2012


Escrever Chamas Alivia O Inferno

Tantos poemas, sangue desperdiçado, pele de alma rasgada à força,
Com cervejas que nunca parecem ser suficientes, palavras quase escritas
Em bares cheios de vazios, mais um a tentar encontrar-se na inutilidade
Dos símbolos que verdadeiramente ninguém percebe com as emoções,
Por isso a poesia tantas vezes apreciada de forma errada, com olhos,
Quando os olhos deveriam estar fechados e a língua cega, pedaço
De carne quente sobre o melaço agridoce, ligeiramente metálico,
Com um toque de terra e esperma em roupa suja, jornais velhos,
A memória de um perfume, tudo um desperdício, um esforço inútil
Para ressuscitar quem se foi naqueles momentos que o tempo
Tornou definitivamente impossíveis e por isso tão desejados.
Surge na letra de uma música vazia, por vezes no desgosto
Dos lábios abusados noutros tempos, nomes que ainda cicatrizam
No flanco do gado do amor, surge de tão pouco a poesia, dos retalhos
Que compõem a vida, e não passa disso, se passar vale a pena
E a poesia que vale a pena, não é poesia, é trabalho, nunca
Suficiente para comprar umas gotas de sangue, as lágrimas secam,
Tornam-se vírgulas, o ódio solidifica em forma de ponto e o poema parágrafo.

27.01.2012

Turku

João Bosco da Silva