quarta-feira, 11 de abril de 2012



Antes De Tomar Banho


Vou tomar banho, um duche rápido vá e já volto cheio de ressentimento e histórias

De amor eterno e hipocrisia, são só cinco dez minutos e já regresso a pingar,

A secar, livre do que o hoje me tornou, todos os olhares, todas as palmadinhas

Nas costas, os abraços dos amigos, dos amigos que, nem vale a pena,

Apesar de um herege, ainda guardo algum respeito à amizade, mas agora

Tenho que me ir lavar, ainda a tenho entranhada na pele, o seu cheiro,

Que a ela, só uma dor de cabeça de quem passou os dias a beber, já venho,

Só um momento de reflexão, na esperança que com a água vá um pouco de mim,

Alívio da minha presença desde o meu sempre, a luz também suja e a noite

Merece um pouco de respeito, sempre engoliu tudo, nos bancos traseiros,

Debaixo das mantas, em cima delas no descampado, tudo até clamividência

Da inocência das prostitutas, de dentes de rato, mas agora, um duche

E acreditem que é mesmo, não costumo mentir desnecessariamente, só quando

Me calo, só quando engulo, ou acendo mais um cigarro evitando certas presenças

No meu olhar, a chama na projecção que consumo, num prazer mórbido, mas já volto

Para acabar mais um poema, tão desnecessário como muitos outros, mas esses

Ainda dizem que vivem, que vida, o poema só consequência de o sentir e dela a passar.



11.04.2012



Turku



João Bosco da Silva