quinta-feira, 12 de abril de 2012




Um Poema Sob Saudade Turca



para a D.K.
Tu esperavas fora da estação de comboios, o Sol ocupava-te o tempo e a tua palidez suave
Cortada pelos óculos de sol enormes, as tuas pernas cruzadas, até ver, lias algo que hoje

Daria outras recordações por saber o quê, e o rio esperava-nos, o dia dependia de nós juntos

Para se dignar a apagar a luz e nem sei quantas horas dura a eternidade, mas a que tu

Me ofereceste, tornou aquele dia num fósforo nesta vida cheia de vento e tantos nadas.

Enquanto o Sol se ia despedindo, também os copos de cerveja, de plástico, comprados

Numa tasca ali perto, os barcos rabelos para inglês ver, e eu e explicar-te com a língua

A história disto tudo, enquanto tentava escrever na tua pele poemas que só mais

Tarde tomariam a forma de palavras, muitas vezes antes de adormecer, as saudades,

E quem nos visse diria que não tínhamos vergonha nenhuma, mas se conhecessem

O brilho da vontade, achariam que a roupa estava a mais e que os meus dedos

Continham toda a minha vida, eu todo em ti, no crepúsculo à beira do Douro

E hoje os dedos só isto, a dor da tua ausência, tantas vezes só, na companhia de gemidos

Falsos, por favor a quem, pergunto-me, mas tu não conheces certos objectos

Que não acreditam no amor, não procuram ser amadas, exigem respeito de quem

Acredita nelas, pedem humilhação paga, claro que paga, nem um olhar seu é gratuito,

Sentem aversão pelo carinho e repugnância por quem as ama com sinceridade,

Oferecem-se à maior oferta, e acreditam que o seu valor é mesmo o da futilidade

Pela qual se vendem, e falo do amor que não foi amor nenhum, só aquilo que te dei

Sem tu me pedires, que foi todo, dei-me todo, esqueci-me do mundo quando

Tu a tornar importante apenas aquela esfera de Lolita Lempicka à tua volta,

Afinal o universo um tamanho definido que te rodeia e eu humanidade curiosa por explorar

Todos os seus segredos, mais uma cerveja e o horizonte já púrpura, acendes um cigarro

E os meus pulmões a desejar o fumo que acabaste de inalar, e tu a encher-me de ti,

Do teu fumo perfumado, quem sabe, se acreditasse, um pouco da tua alma, passa

Alguém conhecido e eu bêbado de ti sorrio-lhe, como quem foi apanhado num pecado bom,

Tu o melhor pecado das minhas migalhas de hóstia, contas-me um pouco do teu caminho

Que eu beijo com a minha atenção, e sonho que a eternidade é a tua presença

Quando ela é possível, por isso desculpa-me esta traição, este querer trazer-te comigo,

Tão longe do tempo, tão longe de ti, ainda respiras e isto deveria ser a carta que nunca

Te escrevi, a resposta à fidelidade da tua memória, tanto esquecimento neste mundo

Sôfrego de passar e morte. Sabes que faço parte deste mundo, mas sou dos que quer tudo

E quer morrer, porque tudo impossível, só a vontade, só um momento e as eternidades

São só a resposta que se tenta encontrar num poema, mas saudade, não responde a nada.



12.04.2012



Turku



João Bosco da Silva