sábado, 5 de maio de 2012




Síndrome de Stendhal

“The future is just wasted on some people.”
Chuck Palahniuk

Como posso explicar-te o que é belo, se belo para ti é uma mentira colorida
E para mim a tristeza de uma verdade, para ti é um gatinho branco no colo
E para mim foram aquelas tardes pelos montes com o cão que me mataram.
Como posso fazer-me entender se falamos a mesma língua diferente,
Se eu bebo para não me ouvir e tu para seres mais alta que o teu ego
De católica fascinada pelo esquecimento de um apêndice, one ring to rule them all,
Eu um ateu, obcecado por outros vazios, é verdade, e cor-de-rosa
É para mim uma frase qualquer do Bernardo Soares, tu dizes que negro,
E respondes-me com um aforismo light sem aspas, para quê, tudo o que dizes
Aspas e eu só virgulas, virgulas, porque tenho medo dos pontos finais e
Envergonham-me as reticências, sonhas com sacos cheios de roupa a encolher
E eu com cafés à sombra de António Lobo Antunes a envelhecer.
Mão vazias para ti são fracasso, para mim foram um caminho que teve que ser,
Não poderia ter sido de outra forma, se fosse, as mãos ocupadas, cheias de peito
Atravessando o intransponível, e tu dizes-me que as estrelas são tão lindas
Enquanto eu suspiro e sinto-me esmagado pela confrontação do meu tamanho
Com a noite além do céu dos santos, do gajo que mora no pão, o tempo bolor,
Para ti o próximo fim-de-semana pela eternidade, belo é belo e tu és feia.

05.05.2012

Turku

João Bosco da Silva