segunda-feira, 21 de maio de 2012


Amor Em Casas De Banho

Sonha-se com amor, aquele que se define com olhares e promessas inversamente
Cumpridas para sempre, quase se sente a sua certeza no primeiro beijo adiado,
Como se por medo, incerteza da certeza de não ser certo, tão carne quando calados
Na carne, quentes húmidos, limitados pelo beijo, sonha-se com o amor e a noite
Traz mamadas embriagadas em casas de banho de bares povoados por almas que
Se procuram nos corpos dos outros, uma excitação resignada, um, dois, três,
Dois a ser uma multidão na companhia de urinóis onde jaz um jantar meio digerido,
Como a promessa do amor que se sonha eterno, lavado o tédio com vinho e cerveja,
Trevas e desespero, procura-se o alívio, mas tudo dentro seco, uma uva que esperou
Por Setembro, mas Setembro já tinha passado, custa manter a pele toda fiel
Ao asco agonizante de estar a encher a boca onde os nossos beijos foram, quase reais,
A posição de tantas manhãs solitárias, de um e de outro, a música um ruído que as paredes
Filtram e fazem quase acreditar que os nossos corações ainda batem, mas só barulho,
Só alguém que bate à porta, que grita uma pressa, um quase um gemido a dizer
Que ocupado, quando ali mais ninguém que metade de duas pessoas, que se procuram
No vazio um do outro, e Setembro tão longe, a noite uma insónia de boca seca,
Hálito à intimidade do silêncio, rumores do segredo esforçado por se derramar
Na pele que não espera mais nada que o silêncio antes do beijo, aquele sonho
Que se acorda com o excesso, demasiada fome a carne, que torna o amor em sonho,
Esquecem-se as impossibilidades por falta de imaginação, troca-se Pessoa por Bukowski,
Troca-se a ilusão, a promessa, pela ejaculação fria no esquecimento da manhã seguinte,
Troca-se a inocência, pelo alívio rápido de carne a envolver espasmos, esquece-se
A arte do suspiro enquanto se olha o infinito numa parede vazia onde a vemos,
O amor de outros dias de sono, que hoje procurámos na insónia de casas de banho.

21.05.2012

Turku

João Bosco da Silva