terça-feira, 22 de maio de 2012


Inutilidades E Paraísos

Não faltam paraísos por esse mundo fora, difícil é encontrar alguém, com quem valha a pena
Partilhá-los, alguém que não acabe por torná-los em mais um inferno, alguém que saia antes
Do tempo apagar uma chamas e acender outras, no fundo paraíso é só onde se deseja ter
Quem não se tem, é só onde não se está quando se está e o calor nos obriga a aceitar a vida.
Custa escrever com a agonia de um dia cedo após uma longa digestão de trevas, contra a força
Do Sol a querer que tudo branco, as palavras tão finas, tão insignificantes contra a vontade da
Luz, o café foi apenas sabor a cefaleia prolongada e os olhos mal se conseguem abrir, tal é
O fascínio pela inutilidade que é abrir a porta e viver, além das pálpebras, da retina nem tanto,
Por isso abre-se o caderno pequeno onde cabe todo o tamanho de uma alma cansada, alma,
Cansada, mas apenas corpo e sono, gente demasiado gente que passa com toda a certeza nos
Passos, folhas que se convencem da eternidade da Primavera e ainda ontem o Inverno à janela,
Uma noite longa que se tornou clara, a lareira apagou-se e por fim ambos um abraço obrigado
Pelo orgasmo que se lava com repugnância na intimidade das mãos em concha ensaboadas
Com o cheiro do amanhecer de um dia quente, que traz a promessa feliz do esquecimento.

22.05.2012

Turku

João Bosco da Silva