quarta-feira, 13 de junho de 2012


Mais Um Ao Professor

Era com o mundo que querias acabar, ou uma dor que só tu sentias, foi a luz intensa
Que não conseguias apagar no sono de uma vida demasiado curta para a tua grandeza,
Foi a multidão de idiotas que te castravam os sonhos, os teus conterrâneos,
Foi o nojo do sangue comum com rastejadores da vida, quando tu asas e o céu tão baixo,
Aquele céu quente, que só nos montes encontra espaço para voo, só na tela encontra
Manobra suficiente para tocar o grito da verdade, que seria, que foi, levaste um pouco
De muita gente contigo, ficou o eco da tua vontade, mas neste mundo os ecos
Dissipam-se, a memória da maioria é feita de vácuo e aí nada se propaga, já devias saber,
Devias ter gritado numa casa vazia, sempre estava cheia de ar, agora gritas pela eternidade
Fora, onde o nada te espera do outro lado onde todos os que partem nunca chegam, são,
Tenho aprendido a desperdiçar tudo o que se pareça com talento, aprendi a reduzir tudo
A quase nada, mantendo-me a uma distância segura dos sonhos, andando encurvado
Por entre burros de orelhas levantadas, aprendi a reconhecer a minha decomposição
No silêncio do espelho, aprendi a fingir gargalhadas quando não estou, afogo-me
Nas noites e regresso na luz tão cansado que nem vontade de nada tenho,
Queria poder ter-te ensinado a forma de passar pela doçura dos abismos, sem saltar,
Mas o professor foste tu, fica a possibilidade do que podia ter sido, William Lee,
Que experiência foi essa, se não se pode partilhar a não ser a especulação da tua dor,
Deixaste o Jack, antes do Jack chegar à meta do seu suicídio lento e agora, agora nada.

13.06.2012

Turku

João Bosco da Silva