segunda-feira, 1 de outubro de 2012


A Relatividade Das Sombras Enquanto Versos Ardem

Sentes-te só e por isso abres um livro e descascas um poema, mas devias saber que o poema
É feito da luz de estrelas mortas, sempre demasiado tarde o alertar da sua presença,
Sempre ausente quando se apressa o coração a encontrar os dedos que tentaram acompanhar
O silêncio das noites dos dias da vida, se te sentes só, fecha o livro, não procures a companhia
Da solidão, não anseies por palavras que deixaram de vibrar e só esperam que os teus olhos
Famintos lhe tragam um pouco de vida, todas as palavras são também tuas, cada uma encaixa
Perfeitamente e parecem abrir-te um alívio em forma de janela, das que tens dentro e não
Sabias que podiam ser abertas, mas não trazem nada de novo, se trouxessem algo de novo
Não compreenderias e dirias, não faz nenhum sentido isto, porque não tinhas em ti o substrato,
Sente-te só, não entre em mais nenhum verso, acabarás por encontrar um espelho onde
Verás a tua solidão de outro lado e aí terás a ilusão de não estares só, um erro, pois é impossível
Encontrar companhia na solidão dos outros é mais real o latir de um cão numa noite
Quase silenciosa, é mais real o chamamento de uma prostituta na rua mais em baixo quando
Passas com a tua solidão, mais real a janela do café ao lado partir e passos apressados
Pela rua abaixo, mais real o toque do telefone da casa ao lado, o passo dos vizinhos,
O olhar que procura um olhar do outro lado do bar, quase deserto, mais real que toda a luz
Que possas encontrar nos versos, onde te encontras só, nu, como se alguém tivesse definido
A tua própria solidão antes de teres nascido, um desconhecido que julgas conhecer nas sombras.

01.10.2012

Turku

João Bosco da Silva