segunda-feira, 8 de outubro de 2012




Feliz Natal E Um Moleskine Perdido

Perdi um moleskine e com ele vários poemas, os melhores poemas, tudo sempre o
Melhor quando perdido, é mais fácil sentir o tamanho do vazio do que daquilo que o criou
Quando se perdeu, aplica-se a tudo, menos à vida, sinto que foram os poemas que mais me
Aliviaram, agora que estão perdidos, sinto um alívio como naquela manhã de Natal,
Depois de ter ejaculado nas tetas daquela loira falsa, com a porta entreaberta,
O alívio da toalha azul, que tinha dormido connosco, com o meu futuro já seco e perdido
Da última foda, a limpar-me da sua pele e mais uma vez perdido, promessas perdidas,
O salvador do mundo irremediavelmente perdido, o anticristo que já demora em vir,
Tudo perdido e o alívio de perder algo que nos era, que nos possuía, que era nós,
Perder um pouco do lixo que se acumula com o passar dos segundos, pelos sentidos,
Pela fermentação do que ficou dos sentidos e já não é nada a não ser um passo na areia,
Que insiste em secar ao Sol, enquanto não vier o azul e levar tudo, perder tudo,
O amanhecer azul e ela geme-me, que queres que te faça, numa língua irmã cortada,
Continua, estou a saborear o teu interior, não pares, isso, e ela preocupada que eu desiludido,
Por só a estar a foder, deixa estar, eu já trato de ti, presente de Natal sem futuro, um orgasmo,
Lençóis esmagados entre unhas pintadas de vermelho, corre-te, e eu venho-me também,
A porta entreaberta, na cozinha o barulho da noite anterior já apagado, dentro de nós, uma
Ressaca dupla, da bebedeira e das fodas, o moleskine perdido, o esperma levado pela toalha
Azul antes de poder arrefecer, os poemas levados antes da tinta secar e só o alívio,
Uma quase satisfação por ser Natal e estar perdido, mesmo encontrando-me dentro de um nome
Que hoje, loira falsa, do sul, que queres que te faça, faço-te tudo e no fim levo apenas o vazio
Que fica depois do Sol nascer, um moleskine cheio de poemas que não serviram para mais nada
A não ser encontrar-me fora de mim, como quem se encontra dentro de alguém e escrever,
Como foder, é a minha forma de não estar só, mesmo estando, um com, outro sem companhia.

08.10.2012

Turku

João Bosco da Silva