domingo, 14 de outubro de 2012


Ensinar A Andar De Bicicleta

Sabe andar de bicicleta, mas não se lembra quem lhe levava a mão no celim até
Encontrar equilíbrio, e depois corria ao seu lado para a levantar do chão logo depois da
Quase queda ou queda, necessária e esperada, só assim se aprende, a andar de bicicleta,
Mas não se lembra que foi na minha que aprendeu, no caminho de terra que me abriu a carne
Um dia e pó e sangue, não se deve lembrar das cerejas em flor nem do cheiro a verde fresco
Dos lameiros húmidos à volta do caminho, o céu azul como o futuro que os olhos acreditavam
Alcançar, amanhã e chegava, no fundo não interessa, ela sabe andar de bicicleta e eu enferrujo,
Ao lado da bicicleta, velha, atirada a um barranco que não sei onde, uma memória abandonada,
As cerejeiras, algumas, já devem ter secado, nos lameiros a erva cresce e não há quem tenha animais
Para pastar tanto verde, um verde que parece mais escuro, no poço as rãs desistiram de provocar
As crianças e tornaram-se seixos, ou um pedaço de sabão azul que alguém deixou ao Sol
E à chuva, a ser uma memória que se gasta com o tempo e perde a forma original,
Mas que continua a poder lavar, as mãos de quem precise da sua espuma, e na vida, tudo o resto
Ensinar alguém a andar de bicicleta, cada novo gesto um ensinamento, cada beijo, cada abraço,
Cada toque, um pouco mais que se leva, e na ilusão de quem dá, fica sempre a esperança
De que ele também, ele a latejar no pouco que se deixa, no pouco onde se foi todo, tudo e se esquece,
Com a negligência inocente das crianças, e o caminho talvez se lembre, de um rapaz a correr
Ao lado de alguém que encontra o equilíbrio, em cima de uma bicicleta, pela primeira vez, para sempre.

14.10.2012

João Bosco da Silva