domingo, 11 de novembro de 2012


Cemitérios Minhotos

para a Mónica,

As únicas palavras que trocámos foram no dia do seu aniversário, ela nas escadas à entrada
Da escola primária com as amigas, um saco de plástico com comida, queres, com um pedaço
De caranguejo na mão, não verde como na praia, cor de laranja, olhei para as amigas entusiasmadas
A trincar o exoesqueleto, não gosto, quando nunca tinha provado, nem sabia se gostava
Ou sequer que aquilo se comia, engoli a minha ignorância e mais uma vez fui vencido pela
Timidez e pela vergonha, gostava dela e não sabia porquê, era bonita e queria prová-la,
Mesmo que não soubesse como, mas eu um estrangeiro ali, como tenho sido sempre,
Com as mãos cheias dos frutos da vergonha e da timidez, vazias, até vir a garrafa, ali todos
Filhos e filhas do mar e eu apaixonado pelas cerejas nas suas orelhas enquanto a procissão passava,
Não gosto, a procissão passou e alguém comeu também as cerejas e lá ia então, com
A vizinha que era diabética e tinha filhos velhíssimos, até andavam na tropa e salvavam de aviões,
Levar flores ao cemitério a nomes que eram só uma pequena cara séria, não se brinca na eternidade,
Não se permitem sorrisos por lá e apesar de não se ter provado antes, não se lhe pode dizer,
Não gosto, portanto arrependo-me do sorriso com o qual não lhe agradeci, porque afinal gostava,
Só ainda não o sabia e poderia, quem sabe, ter-lhe tocado a mão que me estendia aquele pedaço
Cor de laranja de mar, podia ter sentido um pouco daquela carne quente e viva com um nome
Que ainda hoje me desperta na boca o sabor doce daquelas cerejas que não comi, aqueles lábios,
Queres, e eu, não gosto, por ser mais fácil abraçar o vazio que o tamanho de uma possibilidade
E a vizinha lágrimas nos olhos e eu preocupado com o açúcar, deve ser do cheiro do cemitério,
Pensava, a flores podres, água verde, cera queimada e pedras brancas escurecidas pelo fumo
De velas, onde nomes que a carne esquecerá antes delas e caras sérias que sabem tudo aquilo que não sei.

11.11.2012

Turku

João Bosco da Silva