segunda-feira, 12 de novembro de 2012


Fruta Favorita II

É como se o sol se tornasse vermelho, um calor pequenino no frio que quer tornar-se dono dos dias,
Morde-se a pele grossa, arranca-se um pedaço amargo como quem despe as evidências que se
Impõem à verdade que se esconde dentro, tenta-se abrir, mas a forma não permite facilidades,
Arranca-se mais um pouco de amargura, fragiliza-se a resistência enquanto se fazem caretas
Pelo esforço, mas não interessa, valerá a pena, outra tentativa, ambas as mãos, uma para cada lado,
Para revelar o centro, por fim cede, abre-se em duas, o sumo doce torna o olho ácido, limpa-se
E já vem com a companhia de umas lágrimas, revelam-se os rubis, geometricamente alinhados
E dispostos, impossivelmente a forma que são por fora, brilhantes, tensos, a explodir de doçura
Encarnada, envolvidos por uma fina pele, mais um pouco de amargura, os dedos já negros,
Peganhentos, e começa então o jogo de paciência, cuidadosamente, levanta-se o véu amarelo
Que envolve a deliciosa recompensa, e com os dedos, removem-se as joias incrustadas, pouco a pouco,
Com suavidade, uma de cada vez se for necessário, aqueles deliciosos botões prontos a explodir
Na língua, com a pressa de um ourives a criar tempo, despe-se mais um lado, e como a sede
Daquele brilho é tanta, antecipam-se umas dentadas delicadas, chupa-se o excesso de força
Que envolve a boca de luxúria, daquela que não se confessa a nenhum padre, e continua-se,
Até se chegar aos últimos grãos, à última pirâmide e aí, sem medo, trinca-se com vontade
E sente-se o prazer crocante entre os dentes, sorve-se o sumo que fica na palidez, tão nua,
Pegam-se nos grão todos e comem-se às colheres cheias, como pequenos momentos,
Frutos da paciência, da perseverança, sem importarem os dedos negros, o amargo, a acidez nos olhos,
Porque no fim, todos os momentos escarlates valeram a pena, porque no fim a recompensa
É um prato cheio de doçura quente e húmida, gosto das mulheres assim, como as romãs.

12.11.2012

Turku

João Bosco da Silva