terça-feira, 13 de novembro de 2012


Não Pertences Aqui

Aproximo-me da pista de dança e páro a uma distância segura, com a mão cheia de garrafa
Engulo com vontade o desespero e a solidão insensível que dança e transpira e espera e quer carne,
Leite e urina, vejo um par de vinte e um anos, olham para mim, ou as luzes a fazerem-me ver
Olhares onde todos cegos às apalpadelas, uma empurra a outra, a loira a ruiva, a ruiva a loira,
Vamos, tu não pertences aqui, quase me pára o gole que baixava, quem pertence aqui, engulo
Por fim, ao mesmo tempo que alguém é atingido na garganta por uma ejaculação, fruto de um broche
Daqueles sem nome, na casa de banho, és diferente, está bem e vós sois iguais, uma loira e outra ruiva,
Da capital, dizem-me, da vossa capital, afinal de perto, a dois dedos de conversa a cópula nos
Bancos de trás de uma delas, enquanto a outra finge dormitar no banco da frente, começo a achar
Que isto de ser poeta começa a escrever-se pelos poros, os versos lêem-se na forma como levo a garrafa
Aos lábios e o conteúdo adivinha-se no olhar redutor, decompositor, que transforma um ramo
De flores em estrume, não pertences aqui e vejo-me numa canção escrita numa casa de banho,
“Não pertenço aqui”, vejo-me no balanço de Ian Curtis a secar a roupa na cozinha, com ela vestida,
Não pertences aqui e invejo a utilidade de um cão guia, queres vir fumar comigo, a loira tão
Pequenina, frágil e fascinada por sexo e barba a arranhar a sua fragilidade rosada, costumava
Dizer que preferia as ruivas, já não fumo, mas também não pertenço aqui, vamos lá.

20.07.2012

Turku

João Bosco da Silva