quinta-feira, 23 de maio de 2013


Confissão Sem Pecados

Devo ter sido eu hoje, com mãos de cinco ou seis anos, uma curiosidade inocente na ponta da língua
Que não imaginava para badalar orgasmos, a abrir os grandes lábios pequenos e rechonchudos da prima
Mais ou menos pouco menos, da mesma idade, nem sei se fome, os interiores lugares que desconhecia
E os sonhos apenas ecos no escuro, com as sombras a tornar os casacos pendurados no fundo do quarto,
Homens sem pernas prontos a fazerem-me mal quando me absorvesse o divã, nem sabia que mal era o mal
Que me podiam fazer, a língua antes no lápis roído da menina filha da amiga da minha mãe, cujo pai
Morreu ou as abandonou, nem sei, a ausência a mesma nos olhos ainda inocentes, mas com vontade de lhe
Arrancar os lábios daquela carinha de olhos castanhos, a minha mãe a estranhar o meu gosto por bonecas,
Até me apanhar com uma dentro das cuecas com o cabelo loiro a escorrer de onde têm escorrido
E secado os momentos que me submetem, devo ter sido todo hoje, onde traria dentro tal perversidade,
A não ser que a perversidade toda ela em órgãos como ovários, com todo o futuro à espera da altura,
Uns poucos perdidos como na excitação que o cheiro a urina e merda e vício nas casas de banho públicas,
E o rolo de papel higiénico a ser desenrolado, rasgado na casa de banho das senhoras e eu a querer
Ter língua de papel higiénico, quando nem uma cerveja inteira aguentava, no tempo em que uma viagem
De quatro horas me parecia uma semana ao Sol dentro de uma quatro L branca, que cheiro é  este, e eu
A encolher as mãos e a pila tão menina, mijei no palheiro, e verdade, porque as hormonas não à altura
Da curiosidade inocente, ou eu hoje a fazer maldades ao garoto que me trouxe aqui, onde irei quando
Durmo, quando irei quando venço as insónias e os versos que teimam em não sujar os dedos que os engolem
Num vomitar arrependido, antes de tocarem os dentes, tornei-me passivo, castrado, por medo ao fogo do inferno
E às conas com os seus cheiros húmidos a vida, tive que perder a ilusão dos santos para poder
Voltar a ser livre como a criança que do nada inventou o cunnilingus, entre espigas de milho e palha e o bafo
Das vacas na parte da baixo do palheiro do avô, que também ainda vivo e com o cabelo mais cinzento do que o branco que o levou.

Turku

12.05.2013

João Bosco da Silva

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