sexta-feira, 10 de maio de 2013


Purga Na Interzone

Abro a porta da casa de banho e um miúdo está a foder um cu, com a cara de entusiasmo de quem
Está a mijar com alguém ao lado, era um cu, de resto adivinho a cabeça deitada sobre o autoclismo,
Olha-me e não me vê, fode e só sente o que não se sente, a ideia, devo ser eu, o fantasma translúcido
Daquele miúdo, a foder apaticamente uma cabeça de autoclismo, engole toda a merda, lava o esperma salpicado,
O entusiasmo perdido e eu como ele, não sinto nada, como não sinto nada ao ver o vizinho que nunca vi,
Pendurando presuntos pelo pescoço, ou quando os dedos num pulso não esperam mais o que é reservado a todos,
Amor, morte e fodas em casas de banho de bares, afinal não abri porta nenhuma, é um espelho de memória
A reflectir o ridículo sobre os meus cabelos brancos, hoje envelheço cem anos, sei disso porque
Não ando com relógio algum e conto as horas pelas vidas que trago dentro, presas apenas por um nome
E cujas células só são realmente as mesmas as que fodem sem qualquer entusiasmo, que tinham vergonha
De mijar ao lado dos amigos e foi-se, como o orgulho, foi-se tudo, , fecho a porta, viro as costas ao espelho
Sem esperança, encerrando em mim a possibilidade de todas as desilusões do mundo, livre, o miúdo
Não se vai vir, mas nunca esquecerei o que aquele autoclismo me disse, less is more, e a cor do cabelo daquele cu,
Na manhã seguinte tomará banho tentanto lavar os anos que lhe trazem cada vez mais ferrugem
Àquilo que nos faz sentir, abrirá uma porta na casa de banho de um bar e verá o seu reflexo a foder um cu  que diz, less is more.

Turku- Helsínquia

01.05.2013

João Bosco da Silva

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