quinta-feira, 4 de julho de 2013

Raspadinha

Raspadinha

Esta será a raspadinha derradeira, a que irá pagar todas aquelas raspadas no fim-de-semana,
Sentados num banco de jardim ao pé do quiosque, às vezes eram às cinco de uma vez e claro,
Poupava-se no gelado, eu e a minha irmã com as unhas, raspávamos e passávamos à mãe para
Conferir, às vezes ela, dá para mais uma, queres ir lá buscar e eu ia, raspava e ficavam rasgadas
No caixote do lixo, agora que arrancaram o quiosque e que já ninguém se senta naquele jardim
Da vila, agora que nos gelados procuro a ausência dos gelados da infância, esta será a raspadinha
Que irá pagar todas as outras, é uma brincadeira isto, é para passar o tempo, dizia a mãe,
Tentando convencer-nos que não era desilusão nos seus olhos, cem escudos já não é mau,
Guarda-os para um gelado que é melhor, mas onde vou agora buscar o prémio se do quiosque
Só resta o que se vê quando os olhos fechados, ou a voz do senhor J quando cheiro as folhas
De um jornal, esta será a raspadinha derradeira e mesmo assim, sei que a vida ficará menos,
Sempre menos, agora que da infância, o único original e verdadeiro, só a distância resta.

Porto- Coimbra (Comboio)

02.07.2013


João Bosco da Silva

Sem comentários:

Enviar um comentário