domingo, 1 de setembro de 2013

Speramus Meliora; Resurget Cineribus

Não sei o que me trouxe a Detroit, provavelmente o facto de estar familiarizado
No sangue com impérios afundados, sejam barcos, ruínas, abandono, tradições
Baseadas na obscuridade, nos becos esquecidos por tudo menos pelo oportunismo
Parasitário, o sangue escravizado pela terra ou pelas máquinas, trabalhar para viver
Para trabalhar, não sei se as casas abandonadas, se os abandonados nas casas, à espera
Do golpe final, um corte, e a ténue película entre aqui e a bancarrota letal, a miséria
É a desculpa para as oscilações do humor frio das bolsas dos bolsos abstractos dos deuses
A quem ninguém reza e toda a gente deve, paga-se com a vida e está-se finalmente
Descansado, que o coveiro não nos enterre muito fundo, temos que incomodar
Ao menos os narizes, já que este mundo é de surdos, mudos e idiotas feitos pinguins
No ar frio com que engolem o peixe miúdo, nunca serás ninguém enquanto não tiveres
Praga ou Budapeste, dizem-me entre dentes numa fotografia, pensei pedir equivalência,
Afinal tive boa nota na sueca e noutras cartadas internacionais, os certificados entretanto
Foram lavados com sabão e horas de suor e cerveja, outros desfizeram-se quando acordaram
De manhã e o lençol já frio, um manto de neve sobre Detroit, pisado por um rapper
De outros tempos, no tempo em que se podia ser ainda tudo, sabendo o mundo,
Desde logo, que nunca permitiria grandes voos, uns cruzeiros para um futuro naufrago.

31.08.2013

João Bosco da Silva


Coimbra

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