terça-feira, 10 de setembro de 2013

Regurgitações 3

As uvas amadurecem, ou como o vejo, apodrecem no seu doce, uma implosão quente,
O Sol troca a tarde pelo crepúsculo como quem troca Os Maias e os cães ladram nas ruas
Estreitas onde poucas mentes mais estreitas passam, em direção à pipa ou à mulher
Embrutecida pelos anos, ou ao homem embrutecido pelo encornamento e o fumo lento dos
Cafés ou das lareiras no Inverno para o fumeiro e outros chouriços, tudo parece tão distante em
Setembro e mal a cinza assentou, mal o fígado se repôs das longas noites para nada,
Sanita abaixo, cona adentro, alguém racha lenha e dá um peido, despedidas que já
Arrefeceram, ninguém aprende que nunca se volta quando o tempo não se pode rebobinar,
Fica só o vazio e a separação, o lagar aguarda o esmagamento que é o Outono, sangue para o
Arrefecimento gradual do sangue, ao ritmo do encolher dos dias, as motas Zundapp e Sachs
Tentam arrastar-se a tempo do jantar, o fim sem consolo do final do dia, o mais certo
Que se leva é o sal na pele do suor que entretanto secou, o sino da igreja de Tromsø dá as oito
Horas da noite, a madeira não crepita, cansa-se do pragmatismo nórdico, em Helsínquia a
Catedral lava-se da cor rosada do fim do dia e o Inverno não tarda, tão longo, por cá fermenta-se
O que se fodeu sem nome, a vontade, aniquila-se, o sentido sem direção, as crianças vão aos
Lodges cheios de turistas buscar água para o fim do dia em Maasai Mara, os russos continuam
A ser os maiores sob a barba de Dostoievski e o Hotel Chelsea espera pelo vinho azedo de tantos anos
Espremidos pelo tédio e desespero, é o desprezo que mais dói, onde se escreverá a sangue
A última linha, sem ponto final a rematar a diarreia desta gastroenterite apanhada pelos sentidos
E pela sensibilidade à despedida das andorinhas, as de Fevereiro em Nairobi, mais silenciosas,
Com medo do Sol e das águias com olhares de colonizador inglês, o Saimaa já lavou tudo
O que se trouxe e este ano haverá pouco vinho, que se foda a fermentação, o Sol emagrece os
Olhos de sede e Miguel Torga, jaz, silencioso, numa estante de livros que despiram mais do que a sauna.

Torre de Dona Chama

08.09.2013


João Bosco da Silva

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