terça-feira, 3 de setembro de 2013

Super-homem Regressa A Krypton

Os dramas dos santos patéticos, donos das suas certezas, leis próprias e deuses absolutos
Da moral certa e da verdade em questão, fazem-me rir e irritam-me o intestino grosso,
Que sabem estes bebés, com pêlos nos genitais, de infernos, se nunca cortaram à dentada
O cordão umbilical, não sei para que os ouço, há quem prefira os dramas das telenovelas,
Ou das vidas das velhinhas nos programas da tarde, eu ouço por passividade, tirei os óculos
E assumi que o super-homem regressou a Krypton e deixou o super na terra do Sol,
Mais um qualquer que tem que se fingir impressionado com o tédio da vida correcta dos
Outros, que dramas, que sofrimentos, nunca engoliram metade do sangue que eu engoli,
Nem enfrentaram racistas psicóticos sobre influência de drogas tão sintéticas que fazem
A cocaína parecer um filme noir, mas quem sou eu, sozinho não posso fazer nada,
Nem com as palavras, julguei ser capaz de fazer parte, mas entretanto, a sinceridade
Da libido afastou falsos profetas de amor livre e outras teorias bonitas quando se têm
As cuecas no lugar e as mãos nos próprios bolsos, e ouço-os, com o mesmo tédio com que
Corto as unhas, porque crescem, porque é a vida, porque os dias passam e somam-se
Aos que passaram e confundem-se na repetição e bebo o vinho na mó de baixo,
Sem qualquer dor de dentes, que muitos tornariam num drama digno de um romance
Premiado, geralmente são esses que levam o reconhecimento dos patetas pela sua
Abordagem fiel e sincera da mediocridade, da vida superficial e estéril, nem uma palavra
Merda, aqui me cago, e ninguém se espelha, porque aqui há demasiada gente sem cu,
São todos boca e falinhas mansas, todos punhetas engolidas a medo e fodas projectadas
Em sonhos de almofadas de aloé vera, ouço-os com um sorriso que se confunde com
O horizonte nauseado de um crepúsculo de incêndio, acendo um cigarro e queimo
O futuro para que se misture com o passado, para tomar algum corpo para aguentar
A passagem, até à hora da morte, sem pecados, só o que os outros apontam com dedos
Demasiado limpos para quem diz que tem vivido, esqueço o que terei que lembrar e engulo
Mais um gole de vinho, na mó de baixo, ignorando o moinho que me gasta os dentes da paciência.

Coimbra

02.09.2013


João Bosco da Silva

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