quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013


Coito Interrompido

O cansaço escorre-me pelos ouvidos, quente, metálico e não percebo a ausência de suor,
Andar tantos anos para chegar a lado nenhum onde se está e está-se, mesmo que a pingar,
Pingos de ser quase a não ser, a desaparecerem na dissipação da queda que não chega ao fundo
E à distância, uma noite de Abril revela-se entre uma chávena fria e um copo de cerveja
Já quente, uma noite no cemitério na companhia dos ossos de Sebastião Alba, a roçar vapores
Que se confundem com o cheiro do oscilar das chamas de umas velas por lá semeadas
Como quem deixa flores a apodrecer por consideração, os dedos procuram uma aceitação
Viscosa, mas ela diz que hoje não dá, estou nos dias maus do mês e estranho não cheirar a ferro
Quando chupo o dedo ainda húmido ao luar, digo que não faz mal e adio a ejaculação que
Lhe despejo noutra noite na cara, com o mesmo cansaço que me escorre pelos ouvidos,
Mas em jactos, porque menos anos, ou mais vontade de anos por vir, o Sebastião Alba
Continua atropelado e enterrado com o nome que lhe deram, eu nem me dou ao trabalho
De mudar, somo anos perdendo-os e incho, a pele estica, cada vez mais fina e a alma cada vez
Menos densa, diluída na merda que a experiência acumulou, eu cada vez menos e maior,
Com saudades da lobotomia química que me visita nas horas lúcidas da loucura, quando o
Cansaço se faz sangue e me empurra contra o futuro que ainda está para ser parido pelos meus olhos.

Turku

07.02.2013

João Bosco da Silva