sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Demasiado Cansado Para Dormir

“Sit and drink Pennyroyal Tea
Distill the life that´s inside of me”

Kurt Cobain

Os versos fermentam no cansaço, amadurecem nos dias cinzentos
Entre horas perdidas, roubadas à exaustão, mas o sumo,
Esse vem do Verão, da seiva que escorre dos dias loucos,
Das overdoses de felicidade, quando se bebe para alargar a noite
E não para aliviar os olhos do peso dos tempos sérios e sem
Grandes horizontes verdes, as ovelhas ainda pastam na periferia
Da confusa cidade, que o Turner visita ao fim do dia para pintar o céu
De medo, os olhos procuram o alívio das pálpebras  vermelhas ao Sol,
Mas não há Sol, não para todos, é por essa razão que
Todos sonhamos , consumimos o açúcar dos sonhos para tentar
Embebedar os outros com a certeza de todas as nossas incertezas,
E um verso é uma confissão, mesmo quando vinagre, é o testemunho
Da doçura que o tempo transformou, como a ignorância em
Maldade, inocência em hipocrisia, o cansaço num sono impossível
De dormir e que os dedos tentam largar, letra a letra, como
As moscas desesperadas por causa da chegada do frio, procurando
Um sentido para levar toda a confusão à razão, já o mestre dizia
Que a verdade está na doçura, mas nem todos a conseguem
Saborear enquanto escorre pelos dedos, falta infância,
Na verdade, as lágrimas sempre foram mais reais que sorrisos.

Coimbra

25-10-2013


João Bosco da Silva