quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Vomitar Antes De O Barco Parar 

Perseguem-me os ecos das ruas escuras, percorridas no mais rigoroso Inverno possível 
À civilização, as jogadoras de voleibol de dezanove anos, misturam-se com as sonhadoras 
De terras pequenas e afogadas em tradição e hipocrisia engordada a hóstias e fumada a incenso, 
Agora as jogadoras exigem dos seus santos maridos lenços do LV para limpar do canto da boca 
O esperma que colheram entre caixotes do lixo, que entretanto azedou como o vinho que 
Não coube mais na bebedeira, perseguem-se os olhares certos como pedidos sinceros, 
Mas só o reflexo deles, na memória decapitada por recentes difamações circadianas, 
Perde-se a conta às garrafas que consumiram o tédio, amordaçaram a vontade de incendiar 
O Inferno com perversidade inocente e franca, do que se queixam os cadernos que amarelecem 
Numa caligrafia sísmica, não o sei, até as amizades se cansam do cansaço dos outros, e o tempo, 
Esse, persegue quando se torna fantasma, e naquele impossível de se trazer por crânio, 
Que torna as noites tão pesadas quando não se tolera fechar todo o vazio dentro de casa 
E sair para a companhia do incerto, quando é tão certo o que preenche o que falta para o infinito, 
Nada mais me prende a nada, a não ser o desespero, a fome, a sede, tudo que se destila 
Numa aguardente infinitamente inflamável e inflável, nem todas as pedras são levadas 
Pelo vento, não as que matam cedo os sonhos ridículos de criança, nem as que levam 
Ao passo fatal de mais um dia que será levado pelo resto dos dias, perseguem-me os ecos, 
Mas estou trancado entre osso e osso, mudo, só me acompanha a inquietação de tudo 
O que perdi, mas que afinal tive, para perder, quase tomo o Reis como o favorito deles todos, 
Apesar de tudo, prefiro injectar o tédio até ao limite da tolerância, até aos dedos se resignarem 
À guerra contra o passar lento do lixo limpo que se acumula nas ruas comerciais das cidades 
Destes burros com maneiras de inglês, com diplomas escritos com lápis de cera em papel higiénico. 

16-11-2013 

Coimbra 

João Bosco da Silva