quarta-feira, 26 de março de 2014

Chá Verde E Bolachas

Sonhei contigo e com o teu imaculado desprezo pela vida, senti meu o teu desespero
Iluminado e gritado por mil e uma alienações anarquistas, até me sorriste, como só
Tu conseguias fazer, rasgar da melancolia um esboço de felicidade, tu todo dentes,
Demasiados dentes na parede e as palavras a escorrerem de volta onde já não moravas,
Sonhei contigo e escrevo-te ao Sol da tarde, apanhei medo às auroras, as madrugadas
Encerram todo o mal dos dias, embriões metálicos à espera da desculpa do azar ou uma
Distração da sorte, agradeço-te a presença nos dias cinzentos e nas noites claras e dou-te
A razão, aqui só se dura depois de uns anos e a loucura é a própria vida, sonhei contigo,
Um morto, eu um pé atrás, tímido na medida dos impossíveis, na sombra do buraco
Que vou vivendo e ainda esperam que caía, as toupeiras, é lá que te encontro, na memória
Preenchida por carências básicas, sabes, eu também não me interesso, mas a minha música
Morrerá antes de mim, já o mijo secou todo no que um dia conquistei e já não consigo
Fingir mais, a pele de camaleão avariou naquela noite em que acordei e me vi com os olhos
Dos outros, era um espelho ridículo, tu foste a cura para todos os espelhos, irrepetível,
Um Sol amargo numa vida que toda a gente ressente por saber lá no fundo, não a merecer.

Torre De Dona Chama

15/03/2014


João Bosco da Silva

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