segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O Burro De Big Sur

“One fast move or I´m gone”, encerrado num Sol de meia-noite eléctrico e uns copos de
Auchentoshan, da terra dos que recusaram a independência depois do actor católico
Ser eviscerado em público, não quero chegar a lado nenhum, não quero encontrar sentido,
Não quero ir além disto, quero apenas ser real e simples e tocar como a solidão,
Quero imortalizar um momento banal, tão precioso e único como qualquer outro,
Quero tornar um burro numa personagem imortal só porque tocou a minha
Existência, pena não ter poder para tornar a morte dos meus em algo histórico,
Custa-me que a morte de um burro seja mais celebrada, acreditem, eles beberam mais
E eu agora tento escrever por eles, tiveram burros, pertenceram-lhes, provavelmente
Comprados em feiras aos ciganos e agora vivem, ou ecoam, em mim, e em sete ou quinze
Que poucas mais décadas durarão, somos umas décadas, décadas, depois fica o que for
Lido, não o que for escrito, há demasiados em mansardas cheios de sonhos, não haveria
Espaço nas bibliotecas nem no mundo para todos os sonhos do mundo de cada um,
Mesmo assim cheira tanto a estrume numa biblioteca quanto numa terra fertilizada
Pelo estrume de equinos, a diferença está apenas na fertilidade, nas livrarias sem alma
O cheiro é diferente, é mais a estrume de suínos, a garrafa desce e eu continuo
No delírio rasgado a preto no branco, acreditando que ainda há possibilidade de um eco
Depois de me calar por obrigação orgânica, agora, puxo a rolha de cortiça da garrafa
De whiskey, verto no copo um pouco mais de lucidez e vou ter com o Jack à desolação
Do Big Sur num extremo igualmente cheio de solidão e outros vazios libertadores.

25.09.2014

Turku


João Bosco da Silva

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