quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Equilíbrio

Aqui estou, naquele momento , antes de encontrar o equilíbrio na bicicleta,
A um segundo iluminado, do vento e do movimento, a rolar finalmente,
À volta deste planeta, sem rodinhas, sem a mão no selim a amparar,
Pelo caminho de terra, os castanheiros como testemunhas, sem deus,
Aqui estou eu, depois,  com a revista de banda-desenhada no banco
De trás da carrinha do meu pai, enquanto o Sol se põe, no rio
Da aldeia, a cuspir água após ter finalmente encontrando
O equilíbrio na água, naquele momento entre o balanço harmonioso,
Quase como se tivesse encontrado um sentido sem palavras,
Flutuando no corpo líquido, o meu corpo, a revelação,
Aqui estou eu, na missa de Domingo, segurando a cruz em direção
Ao altar, entre aquele momento em que havia Deus e deixou de haver,
Encontrando mais uma vez um equilíbrio, sem palavras,
Aqui estou eu, no limiar da aparição, da angústia e da solidão
Eterna até à falência multiorgânica que lava o mundo da nossa
Presença quase inócua, entre a inocência e a revelação,
Aqui estou eu, quase três décadas e ainda mal me equilibro
Nisto, na vida, neste mundo onde  tudo é permitido e possível,
Entre o impossível e o possível, sentindo os segundos marcados
Pelas estrelas, haja ou não luar, entre o olhar e o ver, condenado,
Abençoado, com os dedos a testemunhar outras vidas
E a deixar testemunho de um momento, entre o estar e o deixar.

04.12.2014

Turku


João Bosco da Silva

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